XXX - Após Um Dia em Veneza...

A Mochileira Tupiniquim chegou à estação de trem Santa Lucia em Veneza às 8h da manhã do dia 29 de setembro de 1989. Gastou um tempo enorme no câmbio para comprar algumas Liras da época e depois estava livre para passear num turismo relâmpago de apenas um dia numa cidade mágica como Veneza, não podia perder mais um segundo sequer. Pegou uma lancha táxi que a levou ao longo do Canal Grande até a Piazza San Marco. O deslumbre do trajeto pelo canal deixou a Mochileira boquiaberta com as magníficas edificações antigas à beira d’água em constante perigo de afundamento e enchentes. Uma façanha arquitetônica de tirar o fôlego de uma nativa de um país mais tropical e emergente.

Ao chegar a seu destino na Piazza San Marco, a Mochileira respirou fundo sem nem saber por onde iniciar seu curto tempo naquela fabulosa ilha. Comprou um livreto de guia turístico em italiano com mapa -que coragem pois ela não falava a língua!- e começou por dar uma olhada geral ao seu redor. Ciente de que precisaria de anos para conhecer em detalhe tantas preciosidades em sua frente, a Mochileira concentrou no que tinha condições imediatas para visitar. A bela Chiesa della Salute só pôde ver da lancha, mas viu a Torre dell’Orologio com seus mouros que batem as horas, visitou a fascinante Basilica di San Marco incluindo uma visita ao Tesouro de objetos sacros e à Pala d’Oro (um mural de ouro do século XIV que demonstra os valores da época com a riqueza e o poderio do povo vêneto), fez a subida ao topo do Campanile para ter uma visão ainda mais arrebatadora de Veneza lá do alto e também visitou o precioso Palazzo Ducale no qual morreu de amores pela Sala delle Quattro Porte!

Um lado angustiante de viajar sozinha é ter que admirar tanto fascínio, muda! Ou quase muda, pois é impossível não deixar escapar suspiros, “ohs” e “ahs” diante de tão grande esplendor. Por falar em suspiro, a Mochileira também pôde apreciar a famosa Ponte dei Sospiri sob a qual passam gôndolas e seus gondoleiros remando para os turistas... Com a desculpa de não ser romântico passear sozinha de gôndola a Mochileira enganou-se assim para não pagar o alto preço da passagem, mas no fundo do seu coração bem que ela sonhou (e sonha até hoje) lá voltar para andar na gôndola com o seu amor! Ah, sim, mas não dá para deixar de lembrar que o nome da Ponte dos Suspiros deve-se às celas da prisão do outro lado do Palazzo Ducale no Rio di Palazzo... não eram amantes suspirando e sim prisioneiros gemendo em seus cárceres.

Bem, a Mochileira passeou o que deu por este cenário encantador e até comprou uma pulseira do típico vidro de Murano para a sua mãe! Caminhou pelas estreitas ruelas internas descobrindo recantos menos turísticos onde moradores locais realmente habitam. Ainda visitou a Chiesa dei Santi Giovanni e Paolo do século XV. Vivenciando tudo isso, o tempo voou e estava na hora da Mochileira se despedir da Piazza San Marco, pegar a lancha táxi de volta para a estação férrea de Veneza.

Já era noite e o seu trem para Roma partiria às 23:35h. No entanto, a Mochileira Tupiniquim embarcou no trem às 22h exausta, só pensando em dormir, após tantas emoções durante aquele dia inebriante. Mal sabia ela o que a aguardava, no seu compartimento, durante a madrugada naquela viagem! Um verdadeiro conto de fadas... após um dia em Veneza... Bom, mas esta realmente é uma outra história que merece ser narrada em detalhes bem coloridões!