O Consertador de Guarda-chuvas

O consertador de guarda-chuvas que habita aquele barraco, caminha cambaleando... Uns dizem que de bêbado, outros que de louco. Que ele bebe todo mundo sabe! Caminha murmurando frases desconexas.
 Em certos dias, ou noites - para certas coisas não existe hora marcada - ele tem terríveis ataques, deixando a todos assustados. Os meninos que jogam bolas e soltam pipas pelas ruas fogem apavorados para dentro de suas casas ou se refugiam como podem. Até os mais moleques - os que atiram pedras nos telhados e vidros das casas e os que matam gatos para comer, fisgados em anzóis como se peixes fossem (pobres gatos! Só serão poupados quando estes meninos tiverem outra coisa para comer), correm como balas.
 Barulho e grito saem do barraco, uma algaravia entrando pelos ouvidos dos vizinhos. - Foi o diabo que entrou no corpo dele! Comenta alguém.
 No dia seguinte o consertador de guarda-chuvas sobe a rua pitando seu cigarrinho de palha com um guarda-chuva pendurado às costas, preso pelo colarinho da camisa, cumprimentando a todos com um sorriso, expondo com transparência sua fragilidade. Com as mãos trêmulas sai contando a quem lhe dê ouvidos os seus causos - causos de guarda-chuvas - e procurando trabalho.- A senhora não tem uma sombrinha precisando de reparo? Que ele é bom em seu ofício todo mundo sabe. Guarda-chuvas caindo aos pedaços ele os transforma em novinhos em folha. Um verdadeiro milagre!
 O que quase ninguém repara é que, com aquelas mãos trêmulas ele consegue dar pontos e prender barbatanas...



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