MEIA VOLTA, RECOMEÇAR!

Eu não tinha me dado conta, ainda, de como colocar um ponto final em determinadas situações de nossas vidas, pode levar algum tempo para aceitação. O processo é lento, as etapas do luto pela perda de uma folha manuscrita do seu livro da vida, parecem não ter hora para acabar ou dia para começar.

Quando havia tomado a decisão de apagar aquelas reticências e substituí-las por um pequeno ponto no canto da palavra, imaginei que seria a melhor ideia que pude ter tomado há anos. Foi abruptamente, desfazer um elo construído por tanto tempo, nunca me pareceu tão fácil. Era só dizer adeus e pronto, poderia alçar vôo em busca da tal felicidade.

O mais engraçado é que de tanto procurar, de tanto espernear implorando liberdade, a ficha caiu, e em poucas palavras me fez entender que felicidade não é questão de ser, e sim, estar. E esse não era o sentimento predominante ali. Eu tinha errado, mais uma vez.

Desapegar é muito mais que ficar livre, se permitir deixar, não ficar sob controle. Aceitei o termo como um desafio, o maior de todos, eu diria. Estar só normalmente me amedronta, adoro o aconchego do silêncio, mas a sensação de solidão faz meu corpo estremecer. Ninguém nunca chegou e me acalmou dizendo que seria fácil, que ao o sol se pôr a situação mudaria. E por incrível que pareça, aceitar isso foi o primeiro passo certo que pude dar.

Eu aceitei a dor.

Eu me permiti sentir.

Ouvi por noites meus pensamentos implorando paz e meu corpo desejando ser liberado daquela tensão que percorria minhas veias a cada minuto que passava. Em maré alta, muitas vezes peguei no sono. Da mesma, me afoguei ao nascer do dia. Era uma fase, eram sintomas e eu precisava sentir todos eles.

Uma hora qualquer a maré abaixou, meu barco voltou a flutuar calmamente sob minha mente inquietadora em busca de um novo rumo. O vento soprava para o outro lado e trazia consigo o melhor sentimento que pude desfrutar em anos. Eu estava em paz. Comigo. E isso sim, é a única liberdade verdadeira que toda pessoa deve buscar.

Repito comigo todos os dias: Um dia por vez, sem pressa. Sem embrulhos no estômago ou mágoas repentinas. Viver na mais estúpida e fascinante teoria que pude colocar em prática: ser e não estar. À diante marinheiro, há muitas histórias para serem escritas e aprendidas. Meia volta, recomeçar.

Ana Thomazini
Enviado por Ana Thomazini em 18/01/2018
Reeditado em 18/01/2018
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