Reza para um querubim

Ainda estranho vê-la de cabeça baixa. Ela, que sempre me fala aquelas coisas clichês, mas que quando ela fala deixam de ser clichês. Quantas vezes eu senti suas mãos nas minhas costas como quem quisesse amenizar algum peso. Eu mordia os joelhos para tirar a atenção de outras dores e ela emergia os dedos nos meus cabelos, aquilo anestesiava meu processo cirúrgico mental. Foi ela que me puxou para fora e me mostrou a beleza em não precisar me afogar engolindo tanto choro. “Ei moça, está tudo bem em não estar tudo bem”- ela dizia. E ficava. Às vezes penso que eu não teria saído do canto daquela parede sem o afeto dela. Às vezes penso que Deus sabia quão frágeis seríamos diante de uma perda e por isso tenha nos enviado os querubins. Talvez, também por isso, ela tenha me ensinado tanto com sua coragem para que eu mesma pudesse carrega-la em minhas asas um dia que ela estivesse tão esgotada de seus voos. Eu tenho me sentido tão incomodada em vê-la de cabeça baixa, mas talvez seja essa a humanidade dos anjos.

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"Dê nuvens que se movem feito ondas

Ondas que batem e arrebentam lentas em mim

E dão banhos de querubim na minha asa

Dê asa, dê asa

Que o céu desaba

Dê asa, dê asa

Que o céu, minha casa"

Canção: Reza Para Um Querubim

A Banda Mais Bonita da Cidade

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*Textos de Quinta - Para fugir da responsabilidade.

Um a cada quinta. Não é promessa, é desejo =)

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 18/01/2018
Reeditado em 18/01/2018
Código do texto: T6229431
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