MENTALIDADE FEUDAL

A importância do assunto é de tal envergadura que devemos voltar a ele, se possível, todos os dias.

Trata-se da política nacional, das firulas, entraves, acordos e tudo mais que formam esse conjunto de ações que, direta ou indiretamente, interfere na vida de todos nós.

Dizem vivermos num regime democrático, mas a bem da verdade não é assim, porque democracia, pela etimologia da palavra, é o sistema de governo aonde o cidadão, por si ou por seus representantes, determinam os destinos da nação, ou núcleo populacional dentro de algo maior, com vistas ao bem estar geral estando todos, absolutamente todos, sujeitos aos mesmos códigos de leis, independentemente dos cargos que ocupem ou da fortuna que consigam amealhar.

A maioria dos países herdou dos europeus a chamada imunidade parlamentar que é a proteção que se deve dar ao representante do povo, (quando em atividade parlamentar) ao denunciar desmandos de “autoridades” ou se posicionar contra ou a favor de quaisquer pleitos ou disputas, mas no Brasil dos dias atuais, essa imunidade se estende para tudo, de ato criminoso até carro estacionado em local proibido.

Nossa origem histórica está baseada no colonialismo onde a autoridade do senhor da terra era inquestionável e, esse costume permanece na nossa sociedade de castas sempre negadas, mas muitas vezes escancaradas.

Em torno do ano 1500, apesar de ser uma potência marítima, Portugal, a quem por força de tratados coube essa parte das Américas, não dispunha de população bastante numerosa para transferir para as terras americanas, africanas e asiáticas.

Também não havia as perseguições religiosas que ensejassem a mudança de famílias inteiras, como aconteceu da Inglaterra para suas colônias, porque Portugal era naquela época e ainda é até os dias atuais, predominantemente, católico apostólico romano.

Na África e Ásia existiam populações estabelecidas com prédios, reis, prefeitos, juízes, comerciantes, pecuaristas, agricultores, etc., praticamente, com o mesmo arranjo social dos portugueses e para esses locais bastava mandar uma missão para negociar com os nativos, instalar uma feitoriazinha só para marcar presença, mas para a América a demanda era bem diferente.

Mato para todo lado.

Não existiam cidades.

Os nativos tinham a mentalidade neolítica e mesmo com o imediato salto cultural para a Idade do Ferro, tudo precisava ser feito a partir do zero.

As terras daqui foram loteadas no sistema de capitanias para que fossem construídas povoações, fortalezas, armazéns para estocar mercadorias e garantir a segurança e o abastecimento dos navios, mas como o arranjo não deu muito certo com os endinheirados, todos aqueles que se dispusessem a vir se estabelecer nas novas terras recebiam carta branca de El Rey para administrar segundo sua maneira de ver e entender direitos e obrigações desde que, regularmente, mandassem as especiarias, pedras preciosas e principalmente ouro para manter a vida nababesca do reino.

E foi da maneira de ser desses senhores que a sociedade brasileira herdou a mentalidade feudal que por comodidade, conivência ou ignorância se mantém até hoje.