TV preto-e-branco

São curiosas as situações que nos fazem lembrar de coisas que, na maioria das vezes, nos surpreendem quando decidem sair dos recantos adormecidos da memória e nos visitam de sopetão. Pois foi assim que aconteceu há alguns anos atrás quando estive na casa de um grande amigo para comemorar seu aniversário.

Ele decidiu fazer uma agradável surpresa aos convidados colocando no tocador de DVD os episódios do desenho animado "Speed Racer", aquele garoto prodígio das pistas de corrida e de outras superfícies indômitas, onde ninguém de bom senso jamais ousou colocar o próprio automóvel. Os episódios estavam com as dublagens originais, mas o desenho era colorido.

Não entendeu o porquê do desenho ser colorido? É que, na primeira vez em que esse desenho animado foi exibido na TV brasileira (na antiga rede Tupi), quase ninguém tinha TV em cores. Então, tudo o que víamos pela telinha era em preto-e-branco. Mas estamos tão acostumados com as cores da televisão atualmente que eu não me lembrava desse importante detalhe.

Mas um dos convidados lembrou e ainda comentou sobre certo acessório, restrito a algumas famílias mais abonadas da época, que consistia de um painel plástico com manchas coloridas distribuídas aleatoriamente e que era encaixado no vidro frontal dos televisores da época. Qual a finalidade desse painel plástico colorido? Mas é evidente: dar cor às imagens sempre acinzentadas que iluminavam os tubos catódicos de nossas antigas TVs.

Era verdadeiramente prazeroso a um garoto de cinco anos enxergar seu personagem predileto ora amarelo, ora vermelho, ora azul, ora verde, ora com duas ou três tonalidades de cores ao mesmo tempo; tudo dependia da posição em que o personagem se encontrava na tela, já que as cores do painel plástico eram fixas, é claro.

O céu ficava amarelo, o mar vermelho, as árvores azuis, o cachorro verde, o apresentador do jornal vermelho, verde e amarelo, uma coisa fantástica. Infelizmente meus pais não possuíam esse valioso acessório, então eu tinha que ir à casa de uma tia para poder usufruir de tal tecnologia. Como isso não era uma coisa frequente, cada oportunidade se transformava num evento imperdível.

Pouco tempo depois o meu avô adquiriu uma televisão em cores, da Philips, toda valvulada e com fino acabamento externo em madeira. Um primor... e uma febre que atingia filhos e netos indistintamente, ávidos para enxergar num retângulo de vidro, em puro deleite, a reprodução eletrônica das autênticas cores que alegram a vida. E os painéis plásticos coloridos foram esquecidos por completo, como se nunca tivessem existido. Naqueles tempos, tudo era mais difícil. Mas era deliciosamente melhor