ZÉ, FIDO E O FÊ-NÊ-MÊ

Zé e Fido o Fê-Nê-Mê

J.torquato

Acocorei-me para “desenhar” com o dedo no chão de terra preta junto a mangueira três em uma, de manga espada, era um tronco que acima se dividia em três.

- É assim mãe, falava enquanto “desenhava”, um Fê Nê Mê com carroceria “arriada”, só que atrás tem o lugar onde a gente “encaixa” a direção com o pau da vassoura, sai Dalí com dois pregos, um cordão de pião que vai até as rodas da frente que tem eixo separado de madeira presa no centro por um prego grande, para ficar girando, entendeu mãe?

- Não, disse minha mãe, não existe carro caminhão de madeira assim no comércio.

- Mas mãe tem de ter, os meninos estão cada um com um caminhão assim dirigindo “por trás” com um volante no cabo de vassoura, é legal.

- Olha o aniversário não é o teu é do Fido, se ele concordar vamos ao comércio comprar este caminhão.

- Então vamos.

- Eu não disse para você ir, o aniversário é do seu irmão, ele é quem vai escolher o presente.

- Mas mãe ele não sabe escolher, ele é vascaíno mãe, ele certamente vai trazer um Mercedes sem graça, todo arrumadinho mas que para andar, tem de ser empurrado.

- Já disse o aniversário é do seu irmão não seu, pára de querer mandar em tudo.

- Tá Tá Tá.

Mãe voltou trazendo dois caminhões Mercedes de madeira com rodas grandes, com carroceria e tudo arrumadinho, sendo um pintado de vermelho barro, e outro de amarelo vômito. Fiquei com o amarelo. Ele me pagaria a noite lá no quarto. Mas eu dormi antes de minha vingança e no outro dia ele me procurou com uma solução. A gente procuraria entre nossos amigos que tinham o caminhão da moda dirigido por trás com volante e tudo já pronto e trocaria nos Mercedes, que eles nossos amigos, saberiam fazer a direção neles, depois de trocados.

Olhando para traz ainda cedo da vida notamos quanto ingênuos fomos e quanto otários ao trocar os Mercedes novinhos e arrumadinhos por caminhões Chevrollet, velhos e desempenados, emendados só porque poderia ser dirigido em pé e com volante.

Assim foi nossa vida, a cumplicidade de irmãos permeou toda infância e juventude, as Brigas eram de um botafoguense contra um vascaíno, pois ambos éramos CSA doentes e brigávamos até em jogos de botão.

Aquela cumplicidade de irmãos que se defendiam e faziam “otarices” com os outros colegas de rua e vizinhos, ou com os colegas de escola, mesmo que na juventude cada um escolheu a escola que queria. Fui desenhar pela vida, e ele saltar de para quedas nas praias cariocas.

A cumplicidade um dia teve um nome Fê Nê Mê, nosso velho caminhão que nunca conseguimos ter, era um caminhão nacional de cabine grande e pesada, mas para nós da era da Nova Brasília e de JK era a coisa mais linda do mundo.

José Torquato o Zé e o Fido/ janeiro 25 - 2018