Conflito existencial?!

Acordava todas as manhãs, e na maioria delas se perguntava o porquê ainda estava viva e respirava esse ar demasiado inóspito, não que estivesse sentindo alguma vontade mórbida de interromper sua existência – diga-se de passagem, sem grandes venturas – mas não entendia o significado de tal vivência.

Queria ser grande, desenvolver algo que mudasse a forma de pensar e agir dos outros, que fizesse o planeta sair de sua orbita. Levantar cedo, trabalhar, cuidar de afazeres diários e da família, não lhe pareciam feitos dignos de serem comparados aos de Einstein, Tesla, Machado e Da Vinci.

No fundo, achava que a vida lhe tinha sido injusta, pois outros tantos não faziam, ou melhor, não conheciam, nem a metade do que sabia e eram muitos mais prósperos... Enfim, concluía: Talvez fossem mais espertos!

Não permitia que nada desse descontentamento abalasse sua rotina, continuava na sua fé, seu foco, no amor pelos seus e até por essa vida que julgava comum, e empenhava seus esforços da melhor maneira possível.

Por vezes, ponderava sobre a situação do mundo, tão violento e cruel, como poderia assegurar o futuro dos seus? Em meio a tanta depravação, como manter a mente limpa e pura? Por que a sociedade evolui tecnologicamente à medida que se degrada moralmente? É... Era triste a constatação: O mundo constrói e caminha para sua própria destruição.

Mas de que adiantava tanto pensamento filosófico e moralmente responsável, se de fato nada fazia para tornar o Mundo um lugar melhor. Não tinha o direito de sentir-se moral e intelectualmente superior. Era como os demais, comum e vulgar, ambígua e esporadicamente má. A antítese encarnada. O orgulho havia corrompido seu caráter, salvo por alguns momentos de pureza.

Em contrapartida, não era a favor de guerras, maus tratos a qualquer ser vivo, nunca roubou, matou ou infligiu mal aos outros, acreditava que no final “compensava”. Havia se autojustificado.

Bastava tudo estar ocorrendo conforme planejado, sobrevinha uma reviravolta ou outra a qual contornava com requintado louvor, e nesse “ciclo defeituoso”, decorriam-se os dias e do nada... Aquele sentimento! “O que fazer? Como fazer? Por que fazer?” Achava que devia existir um manual de instruções... Como se todos os problemas seguissem uma ordem... Como se respeitassem os indivíduos. Ingênua.

Mas mesmo a ingenuidade vesti-se de hipocrisia às vezes, o que lhe cai muito bem no discurso de como ser uma pessoa perfeita. Não em seu caso. “Perfeição humana, em quê consiste?” Acreditava que tal expressão tratava-se de uma prosopopéia humana, pois um objeto pode ser perfeito, mas um humano...?

E nesta crise existencial – ou não – vivia seus dias, na esperança que um dia, talvez um dia, pudesse saber a resposta de sua indagação crucial: “Por que ainda estou viva, pra quê eu nasci?”, pois pensava ela que, quem sabe assim pudesse descobrir a fórmula do tão sonhado sucesso... Tola, já havia descoberto e o estava desfrutando, e nunca percebeu... Compreenderá algum dia? ... Compreenderá que era simplesmente viver sem grandes expectativas?!