Azul e Branco

Quando chega o carnaval eu me lembro de uma passagem que teria sido uma boa experiência para mim. Isso aconteceu em 1952. Eu ia assistir aos ensaios do Azul e Branco, um cordão carnavalesco da Rua Sales de Oliveira, em Campinas. Um dia, o senhor Paulo que era o diretor da bateria me disse:

"Se você já tivesse 18 anos poderia participar do nosso cordão".

Ele me convidou para pegar um surdo, dos maiores, e eu acompanhei o ritmo da música perfeitamente. Ele me disse:

"No ano que vem você volta já com 18 anos completos, que o lugar será seu".

Assim eu fiquei contando os meses para chegar o carnaval de 1953. E ele chegou. Eu e o meu amigo Antônio Hélio, assim que ouvimos, à distância, o som da bateria do Azul e Branco, fomos até o local dos ensaios que ficava embaixo da sede do Campinas Futebol Clube, num terreno próprio para as atividades musicais.

Lá chegando, o senhor Paulo me chamou e disse:

"Pegue aquele surdo grande que estamos formando a bateria e ainda faltam elementos".

Como o meu amigo Antônio Hélio não quis participar ele ficou apenas assistindo o ensaio.

Depois de uns 15 ensaios o diretor do cordão Azul e Branco me deu um pedido de todo o uniforme do Cordão para que eu comprasse. Foi aí que a coisa pegou.

Eu não tinha dinheiro para comprar e falei para o meu pai do assunto. Eu, que ganhava na Fábrica de cola, desde os meus 16 anos, fazendo serviço de maior, igual a ele que trabalhava na companhia Mogiana. E eu dava todo o meu pagamento em casa. Meu pai me disse:

“Eu não tenho dinheiro para jogar fora! Para carnaval não posso te dar nada”.

Então eu fui até a diretoria do Azul e Branco e disse:

“Eu não vou poder desfilar”.

Sem alegar os motivos agradeci muito e fui embora.

No dia do carnaval eu fiquei na calçada vendo as escolas de samba a desfilarem e também os cordões. Mas quando anunciaram pelo alto-falante “... Aí vem o Azul e Branco...”, não tive coragem de ficar ali vendo sua passagem.

Por causa de 80 cruzeiros eu não era um deles! Foi tudo um sonho que não se concretizou!

Laércio
Enviado por Laércio em 12/02/2018
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