MASSIFICAÇÃO

Peço licença para fazer uma reflexão sobre a massificação que envolve as pessoas no mundo de hoje. A negação da realidade do ser humano como pessoal-comunitário, onde o roteiro significa um nexo real e inevitável, desembocando numa destruição, em empresas que lançam pessoas e sociedades umas contra as outras, alheias à sua irmandade superior.

Entende-se por massificação o processo no qual o indivíduo se soma indiferentemente a uma coletividade, devido a uma fraqueza psicológica, frente à angústia anexa à liberdade, de modo que a renúncia em grau máximo a sua capacidade de criatividade, de originalidade e de transgressão, recebendo como recompensa a segurança do campo ideológico, dogmaticamente sustentado pelo coletivo, vá se estressando.

Um mecanismo que se retroalimenta destrutivamente e surge assim: a sociedade que gera indivíduos cada vez mais homogeneizados, mais impessoais, mais temerosos e distantes de qualquer tipo de dinamismo, mais esquivos diante do mais ínfimo dos esforços, cada vez mais dependentes do Estado como protetor e provedor. E como a garantida da sobrevivência da própria sociedade é a autenticidade de cada um de seus membros, como meio de gerar respostas novas às situações novas, impostas pelo dinamismo da realidade, o projeto comum se enfraquece, crescem os temores, os ódios previsores, as inseguranças intransponíveis, e a disponibilidade para a tirania exercida ou suportada.

E somente o ser humano pode ser completamente fiel às sociedades que se forma. Em cada instante da vida, a pessoa é inserida em sistemas de costumes que se dá confiança, enquanto garante-se a ela a comunicação com os outros seres humanos, com respostas adequadas às suas ações, e de que a sua conduta será acertada. Mas a energia que faz o ser humano transcender, repetidas vezes, romper as barreiras que pareciam instransponíveis, é a capacidade de vivência imediata, pessoal e única da própria realidade, mais além dos edifícios conceituais que levam até ela.

De regresso, o ser humano deve mostrar aos outros o visto, deve verbalizar o inefável para pô-lo a serviço da sua coletividade. Esta espécie de via mística se torna impossível se não se superar obstáculos propriamente modernos, se não introduzir na vida um espaço para a intimidade consigo mesmo. Em síntese: é a fonte criadora da cultura humana que se acha no indivíduo vivo, na solidão pessoal e na vida privada que o levará aos caminhos da libertação da massificação.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 15/02/2018
Reeditado em 15/02/2018
Código do texto: T6254530
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