ESTAVA NA FILA DO BANCO E PERCEBI QUE AMADURECI

Precisei ir ao banco dia desses para abrir conta – percebi que a vida adulta também te exige isso: uma conta no banco. Deixei as chaves na mesa da sala onde trabalho para não ter que ser barrado na porta com detector de metal. Aqueles poucos segundo entre os vidros parecem horas e me deixam sem ar. Quando a simpática voz afirma que é preciso deixar os objetos no lugar específico, imagino luzes vermelhas, sineres altas e dezenas de policiais saltando com armas apontadas para mim – e que todos devem achar que sou assaltante.

Antes da incerteza eletrônica, em pé, peguei uma longa fila até o local onde tiram a senha. Me pergunto: não seria mais fácil ter dois funcionários e dois postos de retirar senhas? Porque, lembrando, do outro lado da porta sinistra, também temos que esperar em fila. Mas enfim, sei que questionamentos desse tipo não resolverão meu problema. Infelizmente, esse caso não depende de mim para ser mudado. Então coloquei o celular no depósito de objetos e encarei a porta de vidro. Sem drama. Tudo certo. Passei sem nenhuma polícia apontando armas e sem sirene ensurdecedora anunciando minha infração.

Nos cerca de 40 minutos, entre olhar as redes sociais, comprar outro pacote de conexão e falar besteiras via telefonema com amiga, me peguei novamente em outro questionamento. Mais que isso. Não digo questionamento, mas uma análise. Há cinco anos, eu estava na mesma situação que aquela: esperando na cadeira para ser atendido e abrir conta no banco. Com meus 18 anos, eu tremia de pavor. O máximo que consegui fazer sozinho foi treinar alguns depósitos e, do nada, estava ali: perdido, apavorado e sem saber a diferença entre conta corrente e conta poupança.

Comparei os dois paralelos e percebi que em cinco anos a gente muda. Muda muito. E a percepção chega suave, tímida, rotineiramente. É necessário parar para perceber. Já no atendimento, reparei que até meu jeito de sentar mudou: estava quase deitado, tranquilo e querendo sair logo dali. Diferente do jovem de 18 anos, que balançava as pernas, comia a unha, mexia os dedos e gaguejava ao responder a cada pergunta do funcionário.

Percebi, no banco, que é muito bom amadurecer. Re-constatei que não somos obrigados a saber de tudo, mesmo que esse tudo seja totalmente sabido para grande parte das pessoas. Percebi, tranquilo, que posso perguntar. Devo perguntar. Só aprendemos algo fazendo ou questionando. Não há vergonha em não saber. Que vergonha, na verdade, é menosprezar a dúvida alheia. São nos pequenos questionamentos que estão as grandes análises, que te levam à grandes conclusões e te fazem perceber que no chato cotidiano existem pequenos detalhes que nem todo mundo consegue perceber.

É muito bom sair do banco metido a adulto. É importante dar valor nessas pequenas conquistas que parecem inúteis, mas que te dão um orgulhozinho danado. Depois, analisei cada situação em que precisei e preciso repetir no meu dia a dia. Constatei que se assemelha com esse caso. Na primeira vez tudo é difícil e apavorante, na segunda, também é. Depois, por mais chato que seja, é prazeroso quando você consegue tirar de letra aquilo que tanto te amedrontava... E que vida de adulto é muito mais que abrir conta no banco. É superar os medos todos os dias.