As perigosas velhinhas.

Sempre tive admiração pelo conhecimento e sabedoria que os idosos e idosas tem. Desde pequena eu gostava de ficar por perto, ouvir suas falas, o relembrar o passado, o respeito pela vida. Isso sempre me encantou e fez de mim uma pessoa respeitosa em relação ao passado e, principalmente, amorosa com as coisas da vida.

Todos os elogios, consideração e paciência para com eles e elas.

Mas confesso que , com o andar da carruagem, comecei a perceber que muitas das velhinhas são mesmo muito perigosas. Seus comentários acerca de algumas inovações, mudanças de comportamento e que tais são ásperos e, digamos, carregam uma boa dosagem de inveja por não terem vivido com mais liberdade, descobertas, conquistas e criatividade.

Não deixa de ser engraçada a reação delas quando descobrem a gravidez de uma moça solteira. Os comentários corrosivos chegam a calar qualquer tentativa de defesa da liberdade de escolha.

.” É, tia, o mundo tá muito mudado. A gente pensa que é de um jeito, vai ver, é de outro.”

O meu filho me questiona sobre essa minha argumentação pontual, precisa e esclarecedora = rs rs =, mas eu respondo que não há o que dizer diante do espanto, dos olhos arregalados, das suas fofas bochechas vermelhas, a respeito das escolhas alheias.

E lá vem religião no meio: ”você viu o padre Marcelo... ela acha isso e aquilo. Ele é muito bom”.

. “Ah, sim, claro, como poderia me esquecer do Padre Marcelo”.

E a outra vem e comenta sobre os namorados da sobrinha neta. Certa feita esta teve uma filha de um casamento que logo faliu. Foi a conta: os demais namorados eram “ todos seus amantes. Esse de agora é o quinto”... e mostra os cinco dedos com a mão direita bem aberta, que é prá convencer mesmo.

Assim, fui percebendo que, na maioria, as velhinhas são mesmo mafiosas. Atentas a um mundo que não lhes pertenceu, sentem a dor de não terem passado pelas experiências das escolhas, suas consequentes dores e desatinos... dores, mas com vida, busca de alegria e de boas gargalhadas e com direito a recomeço.

Há alguns anos tenho, semanalmente, um encontro com umas velhinhas numa pastoral que produz medicamentos para a população mais simples.

Na realidade, elas são ótimas, divertidas, bem intencionadas, dispostas para o trabalho e adoram partilhar seus lanches. Gente de boa conversa, de coração bonito... mas não percebem, nem de longe, que o seu conservadorismo é avassalador.

Elas gostam de usar smartphone. Foram se modernizando com seus netos e eu acho isso ótimo, mas o que elas adoram mesmo, sentem um prazer absoluto, é partilhar fake News envolvendo o Lula. Aliás, tudo o que não presta, que vem das mentes abjetas de coxas ensandecidos, elas partilham e pedem para passarmos para frente.

Comecei a responder, a dizer porque não compartilho, afinal foi esse o primeiro presidente verdadeiramente cristão da nossa história e que nem de longe merece esse julgamento sórdido.

O pior é que elas não desconfiam o que tem a ver uma coisa com a outra. Mas estão começando a postar menos mensagem com esses desatinos. A minha parte está sendo feita.

Mas elas são fofas, agradáveis, alegres, adoram falar do Papa e da campanha da Fraternidade. Mas quando o assunto é política... como dizia uma grande amiga de juventude, elas são “assaz por demais”.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 15/02/2018
Reeditado em 06/10/2018
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