Aos 20 eu me descobri saudade.

Aos 10 anos eu estava curioso querendo saber de tudo, e nada parecia o suficiente para uma criança que pensava longe. Eu tinha tão pouco e mesmo assim eu era tão feliz com isso, pois qualquer detalhe era motivo para dias de alegria.

Aos 15 anos eu estava começando a me descobrir, planejando caminhos para seguir, pensando em uma faculdade, querendo conhecer o mundo, mudar de cidade, morar sozinho. Comecei a descobrir minhas primeiras paixões, que por menores e “idiotas” que elas parecessem ser significavam muito para mim.

Eu sentia uma necessidade de saber de tudo, eu via um potencial em mim.

As amizades começavam a se fortalecer, a vontade de querer fazer tudo junto com a galera crescia, o desejo de passar a vida toda ao lado daquelas pessoas aumentava, mas, tudo aquilo não tirava o meu desejo de estar longe de casa.

Todos os dramas familiares só faziam crescer em mim a vontade de fazer tudo por mim mesmo; eu não precisaria mais obedecer ordens. Eu queria a minha individualidade, e, muitas vezes pensei que eu fosse egoísta por achar que minha mãe jamais seria capaz de me compreender.

Aos 17 anos começaram as partidas, os caminhos tinham que ser trilhados. Consequentemente vieram as despedidas, as juras de amizade eterna, as demostrações de amor mais lindas, as lágrimas que caíam quando o ônibus sumia no horizonte. As chamadas no skype viraram rotina, as ligações eram demoradas.

Aos 18 anos novas pessoas começaram a ocupar meus dias e eu estava começando a me redescobrir; a fazer coisas que achei que nunca iriam ser feitas. O “nada” virou “tudo”. As amoras viraram amores e as paixões tolas viraram noites intermináveis de carinho e gratidão.

Hoje, aos 20 anos, eu já me redescobri inúmeras vezes, já mudei muitas vezes de opinião, já defendi várias formas de pensamentos, e sempre me encontro na falta de algo. A saudade faz parte da rotina, as lágrimas já nem querem mais ser derramadas. As ligações felizes e sorridentes para dizer que eu estava com saudade, passaram a ser mensagens de texto (whatsapp) com um simples desejo de coração, seguido de um “vem logo pra cá!”.

Toda aquela vontade de sair de casa, de se jogar no mundo, acaba por se transformar, graças à saudade, em uma necessidade de voltar para casa, e ver a mãe, e abraçar o irmão, e chorar com a irmã.

Os sonhos de ir para mesma faculdade que os velhos amigos, de morar juntos, de curtir a vida da melhor forma possível… nada disso existe mais, a vontade virou saudade e uma visita à família a cada 6 meses.

O individualismo passou a ser medo de ficar sozinho. O egoísmo tornou-se arrependimento. E nada é maior do que a vontade de estar nos braços da minha família, por mais dramática e exagerada que ela possa ser.

Aos 20 anos eu também virei amor, conheci alguém que todos os dias eu o chamo de “meu bem”, ou meu gordinho; acho que a segunda opção é mais usada. Os novos amigos passaram a ser minha segunda família, eu apenas não sei dizer quem são os pais e quem são os filhos, pois todos parecem crianças perdidas dos pais.

Aos 20 anos eu já não quero mais o que eu queria aos 15, entretanto, quero o que eu vou desejar aos 25, 30 anos de idade. Não tenho mais tempo para perder, nem forças para mudar de vida outra vez.

Aos 20 eu me descobri saudade, contudo, não tenho medo nem arrependimento de nada, só tenho vontade de matar essa saudade da forma mais linda que eu posso imaginar… com abraços bem apertados a cada visita de 6 em 6 meses.

Julio V Nichtewitz

Julio V Nichtewitz
Enviado por Julio V Nichtewitz em 22/02/2018
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