Diferente

Eu sempre fui uma criança diferente. Aos quatros anos eu tive o primeiro contato com o que as pessoas chamam de mediunidade, mas pra mim não sei que nome eu daria a isso, sempre foi muito natural e tão meu...

Meu avô paterno havia acabado de falecer e estávamos chegando do enterro. Era de tarde ainda, então eu fui pra varanda brincar, sozinha como sempre. Eu amava a minha solidão. Então fiquei lá, brincando com um aviãozinho até que minha visão ficou branca como se eu estivesse num nevoeiro e uma voz repetia "vovô não vai conseguir entrar no céu, ele vai chamar a vovó. Ele precisa da vovó". Foram segundos, mas parecia que foram horas nesse estado de transe. Voltei ao normal e corri pra contar pra minha mãe e ela obviamente não acreditou, achou que eu tinha ficado impressionada com o caixão. Exatos sete dias após minha avó faleceu.

Aos quatorze anos eu morava numa casa com uma porta de ferro que ia de uma ponta a outra da sala. Eu havia chegado do colégio, coloquei a mochila no quarto e sentei no sofá confortavelmente. O sofá ficava de lado para a porta, e eu senti alguém me observar. Olhei para a porta e vi uma garotinha que teria por volta de uns cinco anos de idade, cabelos loiros e um vestido azul. Ela sorria pra mim. Como eu sempre encarei essas coisas com muita naturalidade eu sorri de volta e então ela sumiu. Olhei para o chão à minha frente e ele havia uma faca do tipo açougueiro de cabo branco dentro de uma poça de sangue, ali no meio da minha sala. Levantei, fui até a cozinha e contei pra minha mãe e ela me olhou com ar de preocupação porque a essa altura ela já acreditava nas coisas que eu via. Três semanas depois esfaquearam um cara em cima de mim dentro do trem.

Aos dezesseis, outra visão. Minha tia tentava há anos engravidar mas sem sucesso. Uma dia, numa das minhas idas para a aula de ballet, eu estava sentada no ponto de ônibus e eu vi um útero com uma criança e as mãos da minha tia segurando este útero. Liguei pra minha mãe pra contar. Telefone ocupado. Liguei novamente e ela atendeu o celular me contando que minha tia havia acabado de ligar pra dar a notícia de que estava grávida.

Aos 19 anos eu estagiava num escritório que ficava no sexto andar num prédio em frente ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Eu, mais dois amigos e meu namorado na época sempre pegávamos o mesmo elevador. Sempre o da direita. Mas num dos encerramentos do expediente, ao chegar no rall dos elevadores eu comecei a dizer desesperadamente pra que ninguém entrasse no elevador que a gente sempre ia, que fossemos no outro. Os três começaram a me questionar o porque daquilo e eu só pedia pra irmos no outro elevador. Consegui convencê-los e entramos no elevador da esquerda. Quando chegamos na portaria o porteiro e o zelador estavam desesperados porque o tal elevador da direita que a gente sempre pegava simplesmente estava enguiçado entre o terceiro e o quarto andar. Saímos do prédio com meus amigos e meu namorado perplexos e um deles me chamando de bruxa.

E a ultima vez foi em dezembro, com você. Te vi sentado no píer, e o mar ao fundo. Você estava com uma camiseta branca e uma bermuda cinza. Era final de tarde, talvez já inicio de noite. Você olhava pro mar e seu semblante era de perdido, triste... Foi a primeira vez que tive uma visão com você, antes só havia tido sonhos e já havia ouvido a sua voz falando comigo. Você me dizia que iria ficar tudo bem e sem seguida senti você me abraçar. Achei que estava ficando louca, mas era a sua voz e era o seu abraço. Eu nunca me enganaria em relação a isso. Numa conversa com aquele nosso amigo em comum abri o jogo e contei sobre essas coisas... Dias depois ele postou uma foto contigo. Você estava com a camiseta branca, uma bermuda escura, que na foto não dava pra ver se era realmente cinza mas parecia, e ao fundo estava o mar. Como eu havia dito...

O porque disso? Eu não sei... A única coisa que eu sei é que eu já sentia uma energia diferente desde o dia que eu te vi em cima daquele palco no show do Raimundos sem nem saber quem era você. Senti uma energia diferente quando fomos apresentados pela primeira vez sem nem imaginar que você era o mesmo cara do show do Raimundos e sentia uma energia diferente em cada momento que estava contigo.

A tal mediunidade sempre esteve presente comigo, faz parte de quem eu sou. Eu sempre fui diferente. Mas conhecer você elevou isso a um outro estado, a um nível que eu não conhecia. Eu que sempre encarei essa coisas com naturalidade, agora me tira do eixo. Cada vez que essas coisas em relação à você acontecem, fica uma incógnita do porque. E eu sempre me pergunto, será que você sente o mesmo?

Katherine Johnson
Enviado por Katherine Johnson em 22/02/2018
Reeditado em 22/02/2018
Código do texto: T6261607
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.