Árvores nuas
Hoje, através de minha pequena e rústica janela, avisto uma cena típica
de inverno. Uma paisagem melancólica acizentada de final de tarde.
No fundo do imenso quintal, uma visão arquitetural rústica de árvores nuas, entrelaçadas por galhos desfolhados, simetricamente arranjados. Pareciam que dançavam melodias orquestradas pelo vento.
A cada movimento caiam gotas d'agua de suas extremidades, simulando
notas tristes de Choppin, enquanto isso, a noite chega prematura e ousada, engolfando sorrateiramente tudo o que restou desse dia curto de brevíssimas horas.
Com sua escuridade, a noite esconde o céu, e abriga em suas recamaras, surprendente opacidade enfumaçada cheia de segredos exóticos.
Para enriquecer os elementos dessa composição invernal, a natureza libera mais um componente de raríssima beleza: a neve.
Mesclado com a neve, existe um sentimento de pureza e sensibilidade na metamorfose inocente da agua congelada em flocos cristalinos. Seu brilho translúcido lembra o sorriso inocente no olhar da criança. Ela reina na brancura, tingindo todas as cores pra depois se despedir pacífica e educadamente.
Fico a imaginar a versatilidade do pintor desse quadro e o sentimento
de sublimidade que Ele desperta na alma de seus expectadores.
Meus pensamentos vagueiam no labirinto da imaginação , produzindo uma expectativa meio que frisada suspensa no ar e ouço os gemidos de inúmeras folhas secas que, outrora, eram verdadeiras protagonistas das exuberância outonal
Meus olhos agora percebem que o nosso enorme fundo de quintal, que antes,era tomado pelo verde de grandes arvores, e agora, um palco de teatro mutante.
Atrás dessa espessa cortina de neve, não se distingue muito bem, as duas cadeiras brancas de plástico que ficavam lá no fundo.
Posicionadas como estao geometricamente, mais se parecem a duas almas
esquecidas, aguardando os famigerados raios do sol.