QUEBRANDO PARADIGMAS

O salto alto do sapato vermelho de Maria Clara atrapalharia um pouco, aquela brincadeira que seria na verdade um grande desafio para a jovem empresaria.

As luzes ofuscantes, o alarido das crianças e toda a movimentação de pessoas sempre presentes em um parque de diversão era novidade para Maria Clara, acostumada a recintos fechados onde amigos intelectuais recitavam poesias ao som de algum instrumento musical.

Mas aquela era uma tarde diferente, pois atendendo o convite da filha Maria Flor, misturaram-se a jovens, crianças e adultos na imensa filha para o ingresso na Roda Gigante.

Mas gigante era o medo da jovem, que aproveita o tempo de espera na fila para lembrar sua infância e sua adolescência, onde sempre evitou os brinquedos e esportes radicais. Constata como essa postura a

acompanhou ingressando em sua vida adulta e tornando constante a sua opção pela permanecia na área de conforto. Relembra todas vezes em que, já mulher adulta, evitou situações novas e as raras vezes em que o desconhecido fez ela aventura-se.

Entram na Roda gigante, e com todo o equipamento de segurança, iniciam a viagem, ou melhor a subida. Anoiteceu e a iluminação colorida e forte possibilita à empresaria uma visão minúscula do parque em festa. O brinquedo para na parte mais alta do circuito, Maria Clara estremece, confere as travas do banco e respira aliviada, enquanto a filha suspende a cabeleira loira ao vento. Não há como negar que a adrenalina presente é contagiante e a jovem por alguns instantes esquece a carga proveniente da vida de profissional bem sucedida. O circular passeio continua, e tecendo comparações, a empresária pensa em todos os altos e baixos da constante roda da vida.

Inicia a descida. Maria Clara tem certeza que ao retornar ao solo firme, muitos medos serão vencidos e uma nova fase começará para ela. E que somente então, poderá desfrutar de toda a visão e da alegria que a quebra de muitos outros velhos paradigmas, com certeza, lhe proporcionará.