Fortalecimento de vínculos seguros entre a criança e seus pais
 
    Não que queira me gabar, mas escolhi uma profissão diferenciada no mercado de trabalho. A cada dia um encontro, uma história de vida nova, uma lágrima teimosa a cair de um olhar que está a minha frente, do qual empaticamente coloco-me à disposição para enfrentarmos juntos os dilemas. Risos, gestos, tentativas de explicações ao inexplicável, teorias e mais teorias, por isso tão instigante e desafiante e porque não dizer: apaixonante.
 
 
     Sobretudo, não é novidade que a minha grande paixão na área da psicologia é a infância e é no pátio da infância, que vislumbro recursos para trabalhar os fenômenos psíquicos, a saber, futuros adultos, melhores, mais resolvidos, menos dependentes, menos adultos/infantilizados.

    E, o brincar, na clínica da infância, assume um estatuto de “cura”, entre um sofrimento e outro, entre as perdas, as frustrações irremediáveis e necessárias para que surja então o - Sujeito. Este, sujeito que denominei em maiúsculo, para enfatizar, o quanto é primordial para a criança saudável psiquicamente, estar simbolicamente separada da fusão mãe/bebê. Em outras palavras, para que a criança se desenvolva de forma plena, englobando o fisiológico e psicológico, há necessidade da criança se diferenciar da sua relação primária, a saber, os pais e, principalmente a mãe.

   A mãe/cuidadora superprotetora, dificulta o crescimento e desenvolvimento de seu filho(a). Há necessidade de sair de cena, para então a criança desejar, aprender e se desenvolver. E, aqui não estamos falando de privação e abandono de forma alguma, muito pelo contrário, estamos problematizando a forma integrada de transitar entre o afeto e a lei, entre a presença e ausência, entre zelar, acolher e deixar ir descobrir o mundo.

  O pai/cuidador necessariamente precisa ser atuante. Efetivo, firme, amoroso, se fazer presente, além da presença física. A criança provoca a interação e efetivação do pai, através da sua teimosia, rebeldia e birras. Ela o convoca a exercer sua função de pai, de lei paterna, para que este seja saciado na sua falta.

  A criança necessita de pais/cuidadores que de forma firme, ativa, lúdica e lúcida se fazem presentes no seu desenvolvimento. No que tange o auxílio da psicologia na construção de ambientes saudáveis, o foco do atendimento não refere somente aos sintomas, sobretudo, no fortalecimento de vínculos seguros entre a criança e seus pais. É, necessário um trabalho sistêmico, que contemple a interlocução, entre psicoterapeuta e a criança, o psicoterapeuta e os pais. Estas interações provocativas, para um viver mais criativo, humano, consciente e menos adoecido e frágil.
 
 
 Águida Hettwer