Salvos pelo celular.

Entro num café, um casal está sentado, passei por eles dei bom dia e eles não me responderam, duas xícaras sobre a mesa, o grito do silêncio entre os dois era de cortar o coração.

Eles estavam compenetrados, encaixotados e engessados como se fossem múmias usando seus smartphones, duas almas preenchidas dum vazio que transbordava a mais pura e translúcida tradicional “vivendo de aparências.”

O que seria dele e dela se não fosse o celular a punho?

Os olhos opacos vidrados não piscavam, era como se o aparelho tivesse lhes sugado os dois espíritos e os pusessem dentro de uma verdadeira Matrix, onde o que prevalecia naquele momento era uma realidade paralela à nossa.

Para o meu castigo o silêncio aumenta seu volume ao máximo, era ensurdecedor compartilhar aquele vazio, aquele não convívio, aquela não harmonia... eles navegavam contra a corrente, estavam insistido numa relação que já não dava mais para sustentar, o teclado virtual era o orgasmo daquele momento, eles sorriam, faziam caras de espanto e de surpresa para o celular e eu ali sufocado porque nem a respiração dele e nem dela se ouvia, estavam mortos dentro da roupa, os aparelhos eram uma extensão daqueles corpos.

Depois de muito tempo ela levanta a sua cabeça e diz: “Tenho que ir trabalhar!” Ele em silêncio estava e em silêncio permaneceu, não houve despedidas, não houve um beijo e nem um simples abraço.

Ela levanta-se da mesa, vai indo em direção ao balcão pagar o seu café e segue para a porta que sai para rua, enquanto isto ele vidrado em seu celular, olhar fixo para a tela e ela sumindo cada vez mais sem olhar para trás.

Como fumaça ela desaparece no horizonte e amanhã de manhã a história rotineira será a mesma: Dois cafés, dois celulares e o silêncio absoluto de dois corpos que não se interagem mais.

#veltosilvanocotidiano

Velto Silva
Enviado por Velto Silva em 06/03/2018
Reeditado em 09/09/2018
Código do texto: T6272385
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