MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

Três versos da canção Mudança de Comportamento chamaram-me a atenção. A canção, de autoria de Edgard Scandurra, é interpretada pela banda Ira. Hoje a ouvi com Kid Abelha, uma forma mais suave de interpretação, na voz tranquila de Paula Toller. Ira é bom, pegada mais forte, mas minha “mudança de comportamento” anda escolhendo suavidade.

Os versos, que me despertaram a atenção, abordam escolhas que o tempo nos permite, assim, conforme o fato de hoje, a opção por Kid Abelha. Dizem eles:

“[...] Mudanças no meu comportamento

Distância louca de mim mesmo

Vontade de sentir o passado [...]”.

Exatamente como dizem os versos citados, os dias vão fazendo com que, no decorrer deles, percebamos mudanças, que nos colocam à enorme distância do que fomos e, em muitos casos, com vontade de sentir o passado (nem tudo dele, óbvio).

Os versos caíram como luva em pensamentos que tive há alguns dias. Eles (os pensamentos) vieram-me, porque sempre que o Facebook traz coisas que publiquei há um ano ou mais, percebo quanto mudei. Digo a mim mesma, em tom exclamativo, “poxa, que bobagem essa que postei” (tenho uma amiga que não gosta do verbo “postar”, confesso que também não sou fã dele), enfim, os verbos vão surgindo em nossa comunicação e acabamos usando-os, empréstimos estes, também resultados das mudanças.

Voltando ao tema, ao rever o passado, percebo que hoje não publicaria o que publiquei lá atrás e é possível que amanhã eu não publique isto de hoje.

Raul Seixas já disse sobre metamorfose ambulante, dirão alguns. Porém, a cada qual, sua metamorfose. Eu preciso dizer da minha. Percebo-me com algumas agitações comportamentais, mas nada que se configure com fatores de risco para um próximo diagnóstico de Alzheimer. Tenho acompanhado e lido sobre isso. Tranquilizem-se.

As mudanças são frutos que o amadurecimento nos permite colher. Confesso que venho gostando delas com seus frutos. Não posso enganar a mim mesma, usando truques para viver uma vida bem vivida, tampouco ir atrás de coisas que alguém disse do tipo “20 regras práticas” para bem viver. Descobri (e todos irão descobrir, eu acho) que para desenvolver uma vida melhor eu dependo de minhas respostas àquilo que cabe exclusivamente a mim. Lamentar-me ou desejar que as coisas fossem diferentes seria enorme perda de tempo. Aliás, procuro fazer com que nada haja a lamentar, o tempo encolheu e não posso perdê-lo. Se eu sucumbir aos queixumes, diminuo minhas possibilidades.

Meu comportamento mudou em relação a muitas coisas. Resgatei muito do que deixara passar sem a devida atenção, ampliei o campo de visão sobre os fatos e percebi que a miopia nada disso atrapalha. Sei também que nada do que aqui digo abala conceitos e nem é essa a intenção. Vou exercendo a arte de curar a mim mesma de coisinhas dispensáveis e a ninguém convido para que me acompanhe.

Aliás, esta minha verdade de hoje pode ser completamente outra amanhã.

As lembranças passadas das páginas do facebook, filtro-as. Para o tempo vindouro, talvez o filtro seja de melhor qualidade, igual aquele com nome de santo, feito de barro, da cozinha perfumada da minha mãe. Coisas deste tipo não mudam e elas me dão vontade de “sentir o passado”.

Dalva Molina Mansano

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 07/03/2018
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