Para as mulheres sírias.

... que perderam o direito de sorrir e de cantar...

Que projetam medo e insegurança no olhar...

Que, quando dormem, nem imaginam o que viverão amanhã... se ainda houver amanhã.

E, se acordam, não, não acordam. Abrem os olhos, mecanicamente, procurando o que dar de comer aos filhos, aos pais, ao companheiro, se ainda houver algo a deglutir... e a si mesma.

Alimento para si mesma, sempre em último lugar, pois as mulheres, sírias ou não, colocam todos os familiares à frente dos seus desejos, necessidades e sonhos.

É a última a se alimentar, a se vestir, a procurar algum espaço, sempre na tentativa da alguma fartura, acalmando corações, apaziguando almas, colocando brilho nos olhos dos filhos, tentando nutrir alguma esperança.

Mulheres sírias que têm dores nos ouvidos provocadas por rotineiros ataques, dores nas pernas, na alma. E não sabem ou não se lembram que hoje é o seu dia. Provavelmente nem tenham um calendário de esperança e de alguma certeza. A contagem do tempo não é mais. O tempo apenas vai e se perde na poeira das ruas que eram belas e onde as pessoas se encontravam e havia algum sorriso. Ruas onde se poderia passear e sonhar, filhos a correr atrás da bola e as meninas... as meninas carregavam suas bonequinhas ou ursinhos de pelúcia.

As mulheres sírias não sabem o que dizer aos seus filhos. Nem aos seus pais, nem a si mesmas.

Existe uma voz que tenta ecoar, uma boca de onde, um dia, haverá a doçura das palavras cândidas. Haverá um livro esperando por suas mãos e sua atenção numa estante na casa onde não há mais. Um dia, a mulher síria espera poder sair de casa e ter casa para voltar. Ela sonha. Tenta despertar dos seus infames pesadelos e acredita que, um dia, vai ser a mulher por completo. Bonita, com graça.

Porque guerra não é feminino. Armas sofisticadas ou não nada tem a ver com o que existe dentro de um coração de mulher.

Pois, no coração da mulher existe coragem, desejo do girassol capaz de procurar a luz maior e dividir esse calor e beleza com os ao seu redor.

Coração de mulher é diferente daqueles corações mal formados, que pretendem a destruição em nome de não sei o que. Ela teima em carregar potes de mel no espírito para depois poder partilhar com os seus iguais.

Mulher síria, agora o mundo não é seu. Nem de longe. O mundo em que você vive se perdeu das mãos femininas, impossibilitadas de tecer bordados coloridos e acolhedores. Um dia o mundo será seu também. É preciso acreditar na força do tempo, na vontade do divino, ou melhor, da divina, porque Deus é mãe. Simplesmente mulher.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 08/03/2018
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