Um autêntico golpe de João-sem-braço

Incauta. Potencial consumidora sujeita à golpe de vendedores. Baixou para o camelódromo para adquirir I-Phone barato, fora do preço oficial. Não fez nenhum questionamento sobre a procedência dos produtos daquele comércio e sequer argumentou sobre garantia em caso de danos no equipamento supostamente novo. Foi Ela colocar o próprio no carregador para tomar a primeira carga para descobrir que havia uma falha já ali. Voltou na venda, bateu boca com o comerciante, mas, sem nota fiscal, para ficar mais barato o produto, ninguém pode reclamar de nada. Reclamar para quem?

Mas, Ela não deixou barato. Foi procurar uma agência de investigação. Queria preparar uma cilada para o provável trapaceiro, que seria do tipo que dava aos clientes como ela o mesmo tratamento que ela tivera.

Blondie. Trajava um vestido cor ocre. Um metro e setenta e sete centímetros de altura com os cinco do scarpan que ela usava para insinuantemente chegar até o baixinho comerciante da loja campeã de vendas de celulares daquele camelódromo. Por trás dos óculos escuros, a loira conferia a descrição da loja e do lojista que sua cliente lhe passara. Reconhecida a tenda e o franzino vendedor, parara no estabelecimento e pusera-se a tatear telefones.

Ouviu "Posso lhe ajudar, senhora" e o aparelho que tocava no momento ela buscou com o comerciante informações.

- Estou interessada nesse celular. Qual é o preço?

- Pra senhora, chefia, é 500 reais!

Tirou ela do ombro esquerdo a bolsa feminina social casual de couro sintético que carregava e passou para o direito. Pareceu ao comerciante que usa linguajar inadequado para uso conforme os bons vendedores sinal de que iria ouvir barganha. Prosseguiu a mulher misteriosa.

- Esse aparelho, eu consultei, ele custa por volta de 2 mil reais. Tem algum defeito?

- Imagina, paixão, está pronto para ser ligado. É só ligar!

- E tem garantia?

- Da loja. Trazendo a nota fiscal.

A mulher, satisfeita com as informações, passou para o homem os 500 reais, pôs a mão na nota fiscal de balcão e se ausentou do cenário por uma hora. Depois de conferir se a nota fiscal era quente e constatar que não, ela voltou ao estabelecimento onde estivera e voltou a procurar pelo baixinho engalobador.

- Olha, moço, isso aqui está com problema. Já quero acionar a garantia!

- Como assim, senhora? De que garantia a senhora está falando?

- A da loja, que o senhor me disse! Tá aqui a nota fiscal.

- Eu disse? A senhora está caducando!

- Estou? Vou então chamar os policiais que vi ali na entrada do camelódromo!

Ela nem precisou sair e eles surgiram. Se inteiraram da situação tão logo chegaram no local. Um dos policiais ao baixinho perguntou:

- Olha, se você deu uma nota fiscal pra ela, certamente tem que haver uma garantia. O que me diz disso?

- Eu não informei para a senhora sobre nenhuma garantia!

As coisas pioraram para o comerciante quando Loira Misteriosa revelou que gravava a conversa. Tirou ela seu Sony Digital Voice Recorder e pôs para executar o arquivo RECORD001.WAV, já no ponto em que acontecia a resposta que o vendedor tentava omitir. Lhe ocorreu, então, a ideia de desfazer o negócio com a mulher esperta. Sugeriu em voz alta.

Esta, por sua vez disse ao grupo que só o dinheiro para ela não resolvia. Muitas outras pessoas poderiam ter passado pelo que ela passou e a forma de essas serem vingadas seria saber que o caloteiro fora parar atrás das grades. E frisou: "a não ser que queira reparar meu dano moral com o valor que o juíz vai estabelecer para você me pagar, que é por volta de cinco mil reais". Dez vezes o que ela gastara estava de bom tamanho para ela.

- Bem, - voltou a falar o policial mediador - vamos ter que nos dirigir para uma delegacia para resolver isso! Está tudo bem para vocês?

Loira Misteriosa respondeu que estava ótimo. O vendedor tentou se esquivar, mas, ao ser informado de que não havia alternativas concordou com a visita à casa do delegado. O outro policial informou o endereço e alertou:

- É preciso que estejam lá dentro de no máximo 1 hora!

A mulher disse que já estava a ir para lá e saiu do mapa. O comerciante sentiu alívio. A acusou aos guardas de se tratar de uma madame com intenção de golpeá-lo e ao ouvir dos guardas a réplica que mudava sua expectativa de se safar da situação sem ter que arcar com prejuízos maiores tentou resolver com eles, oferecendo propina na forma de celular de última geração da loja mal afamada. No que ouviu Ele de um dos guardas, com o outro o encarando com olhar estarrecido:

- Imagina que a gente é ralé e que vai se contentar com presente de suborno, inocente? Sabe lá se também não estamos gravando a conversa? E ainda que não estejamos fazendo isso, somos dois para comprovar o que o senhor disse, não é por acaso. O senhor vai comparecer à delegacia daqui a uma hora?

- S-Sim... i-irei!

Confirmou, tremendo que nem vara verde, o corrupto.

- Estica o braço pra mim!

Um bracelete não removível sem as chaves foi colocado no pulso do homem.

- Isso é como uma tornezeleira eletrônica. Emite sinal para a Central de Polícia. Aonde você for ela nos avisa. Se daqui a uma hora você não estiver na delegacia mencionada, iremos atrás de você. Se isso acontecer, pode esquecer qualquer chance de sair dessa com liberdade.

E o outro policial completou:

- Isso só abre com as chaves. A única forma de você tirá-la do pulso é cortando fora sua mão. Se for fazer isso, não procure um hospital, pois, qualquer que seja saberemos do seu paradeiro e lá estaremos. Passar bem!

E ficou no ambiente de comércio duvidoso o semblante desesperado, com a luz de um pisca-pisca verde refletindo na cara, de um homem que em vez de honestidade preferia passar a perna nos outros para garantir o seu sucesso financeiro. Os guardas foram para a delegacia, onde encontrariam a detetive que fora contratada pela mulher do início da história para dar o troco no malandro que vendeu pra ela gato se passando por lebre.

Mas, infelizmente, o capitalismo é assim: Pessoas buscando dar golpe nas outras para fazerem produtos circularem e virem dinheiro entrar e pessoas desesperadas para comprar o que não sabem se realmente precisam, que em vez de pagarem o preço que vale o produto lícito vão até onde sabem que impera a ilegalidade sem importar se o dinheiro que elas estão deixando de pagar não serviria à investimentos do Governo para ocorrer melhorias para o bem estar social. Se o comerciante decidir cortar sua mão, certamente ele terá arrependimento por não entender essa mecânica e ter sonegado um valor aos cofres públicos que poderiam ser úteis se entregue a um cirurgião gabaritado. Tendo um desfecho melhor para a sua situação, já que da prisão ele não escaparia, ainda que fosse parar num hospital privado.