A VIDA E O MOMENTO QUE VIVEMOS

Indiscutivelmente, estamos vivendo de forma acelerada, frenética e agressiva.

Há dois grupos de pessoas, em nosso mundo, quanto à postura frente à vida.

Alguns crêem ser, esta vida física em que estamos, única, que não se repetirá. Dentro desse grupo há dois subgrupos. Um, formado pelos que crêem na vida espiritual após a morte, embora haja muita diversificação conceitual quanto à natureza de tal situação. Há outro subgrupo, composto por pessoas que não acreditam existir vida além da física, e que após a morte, nada mais há. Tudo se acaba, definitivamente.

Um segundo grupo abrange pessoas que enxergam esta vida física como pequena porção da vida eterna, composta de várias existências físicas, fluídicas, etéricas, que podem se desenvolver em variadas dimensões, indefinidamente.

Você pode até nunca ter pensado nisso ou achar uma baboseira falar de algo assim, mas, invariavelmente, estará adstrito a um desses grupos, pois não há outra alternativa.

Para quem crê nesta existência física como única, sem uma continuidade espiritual, até faz sentido viver freneticamente, porque tende a querer aproveitar tudo e mais um pouco, impor seu jeito de ser, conquistar o que for possível. É claro que, mesmo conseguindo algum tipo de sucesso nessa empreita, a ideia de tudo acabar em nada, após algumas décadas, traz certo desânimo, apreensão, que pode desarvorar o vivente, levando-o à depressão.

Não são muitos os que pensam assim. Representam, estatísticamente, cerca de cinco a seis por cento da humanidade, desde que não incluamos na conta os alegados “ateus, graças a Deus” ou os que declaram ateísmo, apenas para fazer onda, e camuflando o lado místico.

Quanto aos demais, que enxergam esta dimensão de vida de várias formas, mas crêem em uma continuidade ou na ampliação do ser e existir, viver da maneira como descrevi na linha primeira deste texto, é ilógico. Seja qual for o credo, o princípio filosófico ou a doutrina seguida, é certo que a maior parte da verdade e realidade universais, para estes, encontra-se do outro lado, após a jornada carnal, e é ali (seja onde for) que tudo adquire um sentido mais amplo e, totalmente, confiável, real, efetivo. Tudo que se pode ter feito ou sabido aqui, deve até ter um peso qualquer, no caminhar eterno, mas esse peso estará, diretamente, conectado com nosso comportamento, em relação ao próximo, ao meio ambiente e a preservação do veículo físico, que nos foi concedido e nos sustentou durante a existência. Todas nossas conquistas sociais, materiais, políticas, a noção sobre acontecimentos, crenças e descrenças recorrentes, estudo e convicção ideológica, opções e atitudes, individuais ou grupais, pertinentes ao mundo físico, aqui ficarão, por inadequação ao outro ambiente que nos acolherá, seja qual for.

Todos que acreditam num Criador, numa organização suprema, deveriam ter em mente que nos cabe cuidar da saúde, viver em harmonia com o meio e tentar ser solidário com o próximo, colocando-nos em seu lugar, mentalmente, e auxiliando, na medida e no jeito que lhe for mais conveniente (e não do jeito que “nós” achamos conveniente).

Lembro sempre que um senhor indiano, participante de um movimento que preconizava ódio aos muçulmanos, na Índia, e que, num momento de fúria, em meio à manifestação, matou um jovem muçulmano, pediu a Ghandi uma orientação de como reparar seu mal. Este sugeriu que o homem adotasse um órfão muçulmano, criasse-o como muçulmano, dando-lhe todo o carinho possível, até que o garoto se tornasse um homem e escolhesse seu caminho. É assim que a solidariedade e o amor devem ser conduzidos por nós: do jeito que o próximo precisa.

Disse-me, certa vez, um conhecido: - O próximo não sabe o que quer. Tem de ser muito bem instruído, para aprender a saber o que é melhor para si.

Se fôssemos sábios, conhecedores do que, concretamente, rege o universo, em seus mínimos detalhes, talvez pudéssemos ensinar algo, conduzir mentes, mas apesar de dizermos tantas coisas lindas e herméticas, sobre o que está além dos sentidos e da vida rasteira a que estamos presos, só temos conjecturas. Por mais reais que pareçam, apenas parecem.

Ainda que, por outro lado, tentemos nos ater aos aspectos mais elementares da vida física, e acreditemos levar um ensinamento útil aos incultos, e imaginemos com isso mudar o cenário social do planeta, ou parte dele ao menos, nossa iniciativa ainda reside na crença, e não na sabedoria. O livre arbítrio nos faculta crer em algo, mas não em impor nossa crença a alguém, nem em utilizar qualquer meio de indução para tal fim.

Cremos nisso ou naquilo, achamos algo bom ou mau, Simpatizamos com uns e antipatizamos com outros, vemos mérito em certos sistemas e demérito nos demais. Propósitos, intenções, nunca poderão mudar uma vírgula das ocorrências sociais no mundo, enquanto não houver mudança no íntimo de cada um. A cada mínima mudança conceitual no homem, a sociedade começa a mudar. Isso é visível, ao longo de décadas, séculos, milênios. Indubitavelmente, hoje estamos bem melhores do que antes, muito antes, bem antes.

Essa mudança íntima, porém, não pode ser provocada por ideologias ou ensinamentos, mas, unicamente, por vivência, adaptabilidade mental e sintonia específica.

Há quem não concorde, mas basta olhar com imparcialidade para comprovar.

Nenhum homem, nenhum grupo, nenhum sistema político ou social, até os dias de hoje, conseguiram alterar, positivamente, sem retrocesso e sem disparates, o funcionamento das sociedades deste orbe. Todas as mudanças aconteceram “apesar” dessas iniciativas.

Obviamente, quem defende uma ideologia qualquer, encontrará justificativas para dizer que houve, sim, mudança, avanço, prosperidade, melhoria. No entanto, só é possível fazer valer alguma justificativa, particularizando, restringindo, ignorando adversidades, subestimando reveses, superestimando realizações, legitimando erros, desprezando outras fontes, ou criando panos de fundo, realidades alternativas e registros históricos presumíveis.

A única coisa que quase nunca fazemos é reconhecer nosso primitivismo, reconhecer, como os animais, ditos irracionais, reconhecem, instintivamente, que há uma organização suprema a controlar tudo, nos mínimos detalhes, e que está muito além de nosso alcance imaginativo. Supomos que o mundo pode se consumir por nossas mãos, que nossa sandice porá tudo a perder, mas o que deveríamos compreender é que, ainda que sejamos péssimos cidadãos, não temos poder nenhum, além do que nos é permitido ter. Não controlamos nada. Nem nós, os pequenos, nem as supostas organizações secretas, nem as idealizadas elites globais, magos negros e mais os tantos personagens escabrosos que permeiam nossas mídias. Nenhum desses, caso exista, controla nada, além do que lhe é permitido.

Aliás, vou dizer de outra forma. Podem controlar algumas pessoas, algumas nações e algum dinheiro, poder, mas navegam iludidos sobre seus próprios limites.

Há escravos no mundo? Sim! Há desgraça? Sim! Há injustiça? Sim! Há desigualdade? Sim! Há abusos, aberrações e conspirações? Sim! Mas o que importa é saber por que essas coisas ainda acontecem, e não saber que acontecem. Mais importante ainda, é entender por que um Criador e sua assessoria permitem isso.

Como estamos falando de pessoas que crêem numa vida além física, é de se supor que crêem na onisciência e onipresença divinas. Se Deus tudo sabe, tudo vê e em todo lugar está, os acontecimentos têm sua permissão, o mal tem sua permissão, e isso só pode ocorrer, é claro, porque nós demos origem a toda essa balbúrdia, ao longo de todo o tempo em que existe este planeta. Tivemos, desde o princípio, o livre arbítrio, e o utilizamos para bagunçar o coreto. Agora Ele continua a nos dar corda, apenas ajustando um pouco aqui e ali, para que nós mesmos consertemos tudo que destruímos ou destrambelhamos. Achamos que temos o condão de mudar as coisas, mas só o que podemos ou temos permissão de fazer é reparar o mal a que demos origem. E só. Nosso sofrimento tem muito a ver com o mal que nós e nossos iguais perpetraram, ao longo de muito tempo. Colhemos o mal que plantamos.

O controle continua com a Criação. As mudanças que tiverem de ocorrer, já estão, há muito, determinadas pelos mentores siderais, que servem ao princípio divino. Só nos cabe ter a iniciativa de aprender, ajudar, harmonizar, unir, universalizar, irmanar, pacificar e sublimar.

Temos tanto horror a situar nossa pequenez, que, ao longo das eras, criamos diversos deuses, semi-deuses e outras entidades, que tivessem características humanas ou problemas que pudéssemos entender, dentro de nossas extremas limitações, para poder finitizarmos o infinito, ou seja, trazer o poder absoluto do Criador até nossa realidade relativa e instável. Só dotando os deuses de piripaques humanos é que podemos conceber nossos achaques sociais e pessoais. Todavia, a organização criativa suprema está alheia a tudo que possamos saber ou entender, imaginar. Não está sujeita a tempo, espaço, forma, regras, leis, dimensões, energia ou qualquer outro elemento dentro deste universo ou outros versos. Tudo que há é criação, e a criação é apenas fragmento do Criador, e não sua natureza ou ambiente. Busquemos a paz!

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 09/03/2018
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