Zumbizetas, o futuro dos esquecidos

Desordem nos sentimentos de jovens que, hoje, pensam apenas carregar os fardos de uma vida sem sentido, inobjetiva, sem regras e sem limites. Aliás, limites só os da insônia, que após o bater das horas da madrugada os desligam da confusão mental que hoje preda visceralmente essa juventude: que não tem gosto pelo escutar, pelo falar, ouvir e aprender.

Foram desligados do mundo real e solapam escolas públicas, hospitais e ruas com suas presenças “zumbizetas”, num ir e vir pra lugar nenhum; de olhares frios e sem vida, como a dizer: “não existo mais”.

Antes a infância dos piques, dos campinhos e das brincadeiras que nos levava a perceber as diferenças sem classifica-las. Antes a distância de um deus ou de um diabo, que nos colocava num lugar comum e pensativo dos porquês da nossa vida. Antes os amigos de traços e cores diversos que não perdíamos por apoquentar, discordar, discutir ou brigar.

Sem ressentimentos, sabíamos ser a vida bem melhor; mas, a desordem de hoje, percebam, está nos afetando mais diretamente. Está nos derrotando naquilo que acreditamos ser mais precioso: a nossa família, nossos filhos. Estes que terão de cuidar dos “nossos territórios”, que de fronteira em fronteira, retaliam e criam regras absurdas nos fazendo perder o sentido de “nação”.

Agora, somos “grupos ou comandos”, demarcados em territórios aonde os mais espertos raramente aparecem ou moram, nos observam de longe e, via globalização, nos tiram as riquezas simples que temos, nos rouba para viverem de formas palacianas e distantes de tudo que é “território”. A regra do jogo é suja, é fatal. Acho que, brevemente, não teremos mais o sentimento de “pátria nossa”, se é que ainda temos. Teremos apenas os que ficaram esquecidos e aqueles, lá fora, os que nos esqueceram.

Vicente Freire

08 de março de 2018