CAFÉ-COM-LEITE

(Extraído do livro “Tute-Brincadeiras de Papel” do autor Samuel De Leonardo – Tute)

Um dia desses ouvi alguém usar a expressão fulano é “café-com-leite”, mas não consegui acompanhar a fala por completo, o que aguçou a minha curiosidade sobre o que a pessoa se referia. Passei então a refletir e a divagar sobre o tema, parece tão simples, porém complexo. Senão vejamos o que as palavras podem insinuar no rico universo de expressões do cotidiano.

Tais palavras sugerem uma bebida de variados contrastes, pois é apreciada nos mais remotos rincões do mundo. Sábios habitantes da região leiteira europeia que tiveram a feliz ideia de misturar o café com o leite. Com o neocolonialismo, o café com leite se espalhou alcançando a Ásia, Américas e Oceania. Com o advento da industrialização, o leite em pó e o café solúvel chegaram a regiões que não produziam nem um e nem o outro e, com o passar do tempo, mediante o preço e a simplicidade do preparo, vários povos se habituaram à bebida, popularizando-se cada vez mais.

Historicamente no Brasil a expressão nos remete a denominada política do café-com-leite que teve início em 1898, no governo do paulista Campos Salles e perdurou até 1930 na República Velha, no governo de Getúlio Vargas. Foi uma alusão ao acordo firmado entre as oligarquias estaduais de São Paulo e Minas Gerais, juntamente com o governo federal para que os presidentes da República fossem escolhidos entre os políticos dos dois Estados, grandes produtores, respectivamente, de café e de leite.

Ainda, o “café-com-leite”, também serve de expressão linguística, uma linguagem informal metafórica. Acredito que muitos já tenham ouvido o termo, onde crianças menores querem participar de um jogo ou de uma brincadeira qualquer e se deparam com os maiores, mas não oferecem requisitos para tal. e brincam sem que as suas ações tenham algum valor. Assim, em face de fragilidade, o menor é aceito pelo grupo com ressalvas em caráter especial. Não passa de um participante “café-com-leite”, apenas.

Na minha infância, recordo muito bem que além de beber o composto principalmente no desjejum matinal, por vezes recebia a denominação “café-com-leite” por ser menor e mais fraco, quando queria participar de um jogo de futebol ou de outras atividades com os maiores era simplesmente um mero integrante. Na verdade o fato é que ninguém queria ficar com o “café-com-leite” no time ou na atividade porque ele acabava atrapalhando tudo.

Na fase da terceira idade e aposentado já não pago a condução, sou portador do “Cartão Bom”, estaciono em local privilegiado, tenho o “Cartão de Estacionamento”. Agora, aproveito e usufruo os locais onde tenham o aviso preferencial” como filas, assentos em ônibus e metrô e percebo que voltei no tempo, na tenra idade quando era simplesmente um “café-com-leite”.

Samuel De Leonardo (Tute)
Enviado por Samuel De Leonardo (Tute) em 12/03/2018
Reeditado em 02/04/2022
Código do texto: T6278205
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