Resistência
Eu me preparava para fechar a casa pois a tempestade já dava seus primeiros sinais. Ao chegar na varanda, me detive por um momento para apreciar a cor da tempestade. Eu, entusiasta do pôr-do-sol, parei para ver a beleza do azul trovão que pesa a nuvem, como se ela pudesse cair do céu e me quebrar inteira. O barulho do balançar das folhas e o movimento do vento ao se deparar com meu corpo. Esvoaçando meu cabelo, fazendo caminho no meio dos meus seios e arrepiando os pelos da minha barriga. Senti uma atração inevitável pela tormenta que se anunciava, não seria capaz de me mover dali tamanho prazer. Tamanha catarse. E o vento se pôs a lidar com os empecilhos do caminho, revirando-os e soprando poder. Ele gritou para meu próprio corpo "olha o que eu faço de você". E naturalmente, senti medo. Não naturalmente, senti atração por aquilo que estava prestes a me destruir tantas vezes.
Não o vento. O medo.
Olhei em seus olhos e fui capaz de suportá-lo sem enlouquecer, sem me desfazer. Fui capaz de suportar o que me anunciava a destruição. E a destruição em si. Não enlouqueci. Não superei. Mas permaneci.