“Dividiu o mar, fez com que as águas parassem como num montão. De dia os guiou por uma nuvem, e toda a noite por uma luz de fogo. Fendeu as penhas no deserto; e deu-lhes de beber como de grandes abismos. Fez sair fontes da rocha, e fez correr as águas como rios” (Salmo 78:12-16).
 

Muitas Maravilhas foram consumadas nas terras do Egito. Deus, pessoalmente, desde lá do princípio acordava arrebatamentos e o Espírito se movia sobre a face das águas (Gn 1,2). Depois, Ele desceu para livrar o povo escolhido das mãos dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel (Ex 3,8). Com a Boa Nova, posteriormente, Ele diferiu aos anjos missões para nos fascinar.

Incidiu assim na visita a Zacarias, esposo de Izabel, que viriam a ser os pais de João Batista (Lucas 1,11-20); na Anunciação da Encarnação à virgem que se chamava Maria (Lucas 1,26); quando um Anjo aparece em sonho a José para anunciar-lhe o nascimento do menino (Mt 1,18-24); mais tarde, em sonho, aparece novamente a José e o ordena a fugir do Egito com o Menino e sua Mãe (Mt 3,13-15); quando Herodes fez aprisionar Pedro, um anjo o libera (At 12,4-9); o anjo aparecia sempre no hall da piscina de Betsaida (Jo 5,4). Maria de Magdala, Maria mãe de Tiago e Salomé vão à tumba de Jesus e um anjo descido do céu removeu a pedra e sentou-se sobre ela (Mt 28,1-6). Eximiamente vêm desse modo os anjos exercendo seus mandados.

Mais atualmente, lá da Jerusalém celeste, Deus envia-nos, além dos anjos, pessoas santas. Aqueles membros da igreja que nos são dados como exemplo e intercessão, para nos ajudar e brindar com graças. De tal modo, invoquei Santa Terezinha do Menino Jesus, no dizer do Papa São Pio XI “a maior santa dos tempos modernos”, a quem são atribuídos incontáveis milagres e graças de todo o gênero, para interceder por uma súplica especial. Fi-lo intimamente, no mais seguro do meu coração, em manifestação novenal de sua devoção, por meio da direção espiritual do Padre Damião Silva, no seu programa diário transmitido pelas rádios Olinda (AM) e Clube (FM), propriamente titulado “Encontro com Deus”.

Santa Terezinha quedava feliz quando lançava pétalas de rosas ao ver passar o Santíssimo Sacramento no ostensório e ao mesmo tempo prezava jogar flores no grande crucifixo que ficava no jardim do Carmelo. Disse à frente da morte: “Vou fazer chover sobre o mundo uma chuva de rosas”, expondo que intercederia junto a Deus, sempre, por todos os povos. Por isso, ao termo dos nove dias de orações, o fiel de Santa Terezinha ambiciona auferir rosas como sinal de que seu pedido será atendido.

Ao cabo da minha prática novenal, no domingo, incluí-me em uma festa cristã, realizada em estádio aberto e lá houve uma “chuva de rosas” exaltadora a Santa Terezinha do Menino Jesus, conforme o calendário de festividades da Igreja Católica. Ocasionalmente, na quinta-feira ao meio-dia, daquela mesma semana preludiada com a “chuva de rosas”, integrei a missa na função de leitor na Liturgia da Palavra. Foi quando recebi uma benesse divina.

Chegou-me a dádiva na missa celebrada na Igreja dedicada a Nossa Senhora do Desterro, coincidentemente conhecida como Igreja de Santa Teresa de Jesus, cofundadora da Ordem dos Carmelitas Descalços, localizada em Olinda. Não foi, pois, na Igreja dedicada a Santa Teresinha do Menino Jesus (de Lisieux - França) - a quem eu suplicara - que a graça me chegou, mas na capela consagrada a Santa Teresa de Jesus (de Ávila - Espanha). Estimável acaso, pois ambas as santas (Teresas) pertenceram a Ordem Carmelitas Descalças, ganharam a declaração de “Doutoras da Igreja” (só há quatro santas com este título honorífico dado pelo Vaticano) e inseriram em seus nomes religiosos o precioso Nome de Jesus, como amor incondicional ao filho de Deus. Creio, pela glória do Pai, que as aludidas santas, com toda benevolência e favor, generosa e espontaneamente se uniram em prol do meu pedido, sustentando-me e aliviando a dor, enquanto andei na escuridão, até o fim, quando me veio a Luz.

Naquela leitura antes referida (do Livro de Neemias 8,1-12), dois versículos me trouxeram arrepios de felicidade na hora em que eu narrava a Palavra diante do ambão, lá no presbitério. A primeira das passagens dizia:

 
“Assim, na praça que fica defronte da porta das Águas, Esdras fez a leitura do livro, desde o amanhecer até o meio-dia, na presença dos homens, das mulheres e de todos os que eram capazes de compreender”.

Depois, o outro versículo:
 
“E Neemias disse-lhes: ‘...Pois este dia é santo para o nosso Senhor. Não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será vossa’”.
 
Coincidências ou Deusdências (termo do Padre Antônio Maria)?

Deusdências, com certeza. ...Sete coincidências de Deus!

Explico a seguir esses sete sinais desatando as imprecisões:

 
1ª Deusdência - as rosas do domingo, mesmo lançadas de um helicóptero, fascinaram-me, como as que surpreendem e confirmam aos devotos de Santa Teresinha, ao final da novena, a anuência ao pleito;
2ª Deusdência - a participação na missa (na Igreja de Santa Teresa) na quinta-feira, ao cabo da novena de Santa Terezinha, não estava ideada, nem havia causa mundanal para estimular minha marcha até aquela igreja, onde alcancei a graça solicitada;
3ª Deusdência - o convite para a Liturgia naquela missa, exatamente ao meio-dia, mesmo horário do texto bíblico “desde o amanhecer até o meio-dia”, foi casualidade, que se traduz como um forte sinal de intercessão divina;
4ª Deusdência - a Escritura “na presença dos homens, das mulheres e de todos os que eram capazes de compreender” e a captação do quanto nela revelado, a qual (naquela hora) me foi dado a compreender, trouxe a certeza do fato que me rodeava;
5ª Deusdência - a sentença ao final para que: “não fiqueis tristes, porque a alegria do Senhor será vossa” apartava a tristeza para longe, noutras palavras, a benção havia sido deitado sobre os meus ombros;
6ª Deusdência - no mesmo verseto a referência a um dia santo para o nosso Senhor. Dia de maravilhas para todos nós, não há dúvidas;
7ª Deusdência - a indicação: “praça que fica defronte da Porta das Águas”, torrão igual ao Varadouro, nos antigos mapas apontado como o porto olindense - uma verdadeira porta das águas - onde está a Igreja de Santa Teresa, igualava o local da passagem bíblica ao local onde me veio a unção.

Tudo isso foi e é Deusdência. Esses sete sinais se complementaram e me deram o tom de um dia colorido pelas bendições do céu. Por isso, os arrepios. Ele, o Altíssimo, fez e persiste praticando surpresas. Contudo, essa geração olvida as obras de Deus, não aprecia a Aliança e desobedece os Mandamentos. Falta-lhe fidelidade para beber o cálice da sabedoria que permite ter o sentido da audição, visão e enxergar os atuais planos, sinais e milagres do Senhor. Não me sinto errado ao fazer tal assertiva, pois é espantoso o desinteresse das pessoas em aprender o que Deus ensina. “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1 Co 2:14). Nesse diapasão, não me surpreenderá que muitos conservem-se céticos quanto a essas coisas que ora narro. Não importa, São Paulo mostrou em sua Segunda Carta a Timóteo que devemos nos preocupar com a sã doutrina (1,13-14; 2,2-3), meditar sobre a graça de Deus (1,9-11), a fidelidade de Cristo (2,11-13) e a natureza e função das Escrituras Sagradas (3,15-17). Isso basta! “Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai” (1 Jo, 3-1).

Na verdade não tive ciência da bênção até chegar em casa. Explico: o pedido era para reconquistar uma amizade. Para restauração de uma união de quase cinco décadas, rompida há quase cinco anos, aparentemente pela perda de contato nosso com a realidade. Ocorreu a ruína e o fracasso dos laços de ternura. Jazíamos ausentes da nossa vida comum. Rezei para que esse mal, com suas desolações, fosse afastado. Perder amizades e, com a perda, a quebra de todas as promessas, mostrou-se dor pior que enfrentar a morte de um ente querido. O que morre ganha a vida eterna ...Passou da morte para a vida” (Jo 5,24). Vai para o Plano de Deus. Isso nos consola no luto. Na desunião, a vida é tirada da terra, os espíritos vagueiam sem ordem e sem lealdade, perdidos no vazio da desilusão do plano terreno. Desconsolo. Morre-se por dentro, permanecendo vivo como zumbis, doentes nas mentes e dos corpos. É momento fúnebre, sem morte. Expiação desmedida. Reatar amizade é - assim agora creio - uma maravilha de Deus.

Volto à narrativa. Ao entrar em casa, de pronto ouvi uma notícia arrebatadora: Disseram-me que enquanto todos estavam lá escutando a transmissão da missa pelo rádio, o telefone tocou. Era o nosso amigo. Do nada, sem explicações, sem justificações, ele ligou e anunciou o desejo de reatar a amizade e pedia, emocionado, para nos reencontramos o mais breve possível. Ao saber, quase tombei de deslumbramento. Aos poucos o brilho do Espírito Santo encheu meu coração, acendendo nele o fogo do amor e me trazendo de volta ao mundo. Deu-me a perceber a maravilha. O momento da ligação telefônica coincidira (Deusdência) com o ensejo da missa. Reconheci confiante, então, que o Senhor realizava mais uma surpresa em nossas vidas. Deus triunfou! Jesus ao atender a interseção das duas santas e da sua mãe, seguramente estava assumindo o controle e vinha ao nosso encontro mostrar o quão segura e eterna é a nossa benção. Fiquei em silêncio, interior e exterior. Respirei a brisa e tomei consciência da presença de Deus ali entre nós. Fiz o sinal da cruz. A reação, a contive. Estava muito extasiado para dizer algo plausível.

Em frações de segundos passou-me na mente um filme de todos os últimos anos; o medo, a angústia, a tristeza, o vazio. Vi ainda o quanto crescemos espiritualmente durante aquele período. As boas mudanças que aconteceram em mim, na nossa família, no mundo, nos nossos amigos, por meio dos dons do Espírito Santo. De maneira especial, percebi o triunfar de nossa amizade sobre o mal que lhe acometera. Nos últimos anos, distingui a obra do Senhor em todos nós. Sai da passividade. Perdi o receio de proclamar que sou cristão. Que sou parte da Igreja Católica Apostólica Romana. Que posso evangelizar, levando a Palavra de Deus para quem deseja ouvi-la. Passei a ler mais docemente os ensinamentos das Escrituras e a ensiná-las. Andei, conduzido pelo meu líder espiritual, nos santificados pedaços de chão palestinos onde Jesus, sua Virgem Mãe e outros santos pisaram e até no Gólgota, onde Cristo morreu por nós. Conheci santuários marianos pelo mundo afora e, ao fim, aprendi a ser nova pessoa, gloriosamente reconciliado com Cristo.

“Já não vos chamo servos.... Mas tenho-vos chamado amigos” (Jo 15,15).  Talvez essa tenha sido a tônica que me conduziu à devoção a Santa Teresinha. Quiçá tenha logrado livrar-me mais vezes, constante e repetidamente das tentações, insinuações e seduções e Deus tenha me dado saborear aquele presente solicitado. O verdadeiro maná do deserto. Não sei se merecido, mas por mim bastante apreciado. Ao amigo, peço perdão pelo que deixei de fazer em prol da nossa afeição. Sei que receberei sua compaixão. Confesso: o despreparo para arrostar a circunstância foi superior ao meu anseio de insistir na busca da saída, embora a procura tenha sido longa e sem tréguas. Atrapalhamo-nos, mas o Espírito Santo por seus caminhos secretos nos fez recomeçar. Nosso reencontro foi maravilhoso. A glória de Deus, de Jesus, dos anjos e santos, foi uma graça alcançada. Persistamos sempre fiel a nossa amizade, conforme a vontade nossa e a do céu. Sigamos vigilantes! Atento às coisas lá de cima. Sem descuidar do fundamental: Deus está sempre conosco.

Dirijo-me aos céus e peço-Lhe, Deus Pai, que conserve esse feliz triunfo e consagre-o para todo o sempre, alicerçado na alegria e no apreço presente em nosso meio. Nosso templo de amizade foi reconstruído com todas as suas entradas e foram construídas portas que não permitem mais fugas. Mantenha assim, daqui até a eternidade. Abençoe nossa amizade e nossas famílias, que genuinamente é uma só, hoje e sempre! Louvo a Deus e dou o testemunho dessa maravilha. Graça alcançada é graça testemunhada!