Sobre a vida e a morte

Vivi dois lutos, em um período de um mês, de pessoas próximas e importantes pra mim. Uma delas, já idosa, havia vivido nove décadas, a outra ainda tinha boa parte da vida pra viver. Percebi que a morte não vem com uma foice, ou manda um recado antes de vir. Às vezes, percebemos seus sinais, mas nada que garanta sua vinda e é isso que esmaga nosso coração. Quer saber de uma coincidência que existia entre essas duas pessoas? Ambas queriam a vida. Inclusive a que tinha suas doces - e amargas - nove décadas. Queriam viver, e lutaram por isso. Mas suas vidas frágeis foram embora com o vento, e deixou um espaço vazio nos cômodos da casa, num guarda-roupa, num sofá, numa cama e nos corações. Foi-se. A morte derrotou a vida. Mas, a vida viveu o que tinha de viver. A vida ainda bate a nossa porta. A vida ainda existe em nós, que ficamos. Talvez monótona, cansativa e amarga. Talvez doce, leve e alegre. A vida ainda existe em nós, mas também pode ir com o vento, sem mandar recado, sem apresentar a sombra de sua foice. Em um momento, ela virá, lúgubre aos que ficam, iluminada aos que se vão em paz. Enquanto ela não chega, sentamos em uma poltrona qualquer e revemos nossos atos, nossas discussões desnecessárias, nossos medos medíocres e nossos erros que se repetem. Fechamos os olhos, respiramos fundo, e mais uma vez entendemos que a vida, realmente, é um sopro. Abrimos os olhos e, a vida, indaga-nos com tal pergunta: o que você tem feito em relação a isso? Sobre a vida e sobre a morte, o que tem feito? Eu sei? Você sabe?

Amanda K Abreu
Enviado por Amanda K Abreu em 16/03/2018
Reeditado em 16/03/2018
Código do texto: T6281634
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