Lembranças Esquecidas.

Desde que me conheço por gente me viram como uma espécie de transgressor. Na adolescência e começo da idade adulta foi o pico. Só não injetei e nem fumei pedra.

Hoje meus dias se reduzem a trabalhar, escrever, puxar uma musculação, ler, correr, fumar erva, procurar "um grande amor" e encher a cara. Nada mais.

Não tenho mais tempo para rodas de amigos, reuniões, festas, eventos, casamentos, conversa fiada, fuxico, ladainha, coisas sem alma, nexo, conteúdo, coração e sentido! Meus dias são raros e não posso desperdiça-los com coisas e tormentos.

O máximo que você pode me ver em divertimento noturno é sentado sozinho num bar ou com no máximo duas ou três pessoas.

Durante 40 anos da minha vida ouvi o som das serras das máquinas da Oficina do meu pai. É triste ir lá e ser recepcionado pelo silêncio.

Hoje tive que viajar de novo. Outro dia mandei um nuds no Messenger de uma amiga. Ela gostou e disse que até gozou um pouco. Foi só uma foto do pinto. Mas como eu ia dizendo, hoje fui a Guarulhos levar alguns idosos carentes ao retorno ao médico. Foi uma experiência gratificante!

Quando morei em Diadema em 1976 e o Palmeiras ganhou o campeonato Paulista sobre o XV de Piracicaba, vivia como que dentro de uma nuvem fria. Por isso adquiri o hábito de correr. Pra tudo eu corria. Ia correndo para o trabalho, ao supermercado, dentista, beber no bar do Antoninho (ex-jogador de futebol). Cheguei até a me inscrever na São Silvestre, mas não consegui correr, e isso me foi uma grande frustração. Fui correndo de Diadema a São Paulo, e quando cheguei lá estava cansado demais.

Minha avó materna morava numa casa onde havia um enorme quintal. Lá tinha horta, pomar, galinhas e cães. Ela adorava aquele quintal. Passava boa parte andando por lá. Nunca passamos falta de frutas, carne de frango, verduras, legumes e ovos. Todo domingo ela acordava cedinho, colhia algumas hortaliças, chupava uma cajamanga, torcia o pescoço de uma galinha, botava na fervura, brincava com os netos e ia para o fogão à lenha fazer sabão de cachorro.

Meu avô materno uma vez desmaiou um peão com um soco no nariz. Foram pescar juntos e o peão encheu o cu de pinga e veio com uma faca para o lado do meu avô por causa de uma corvina. Foi só um! Pluff! E lá ficou o peão esticado na beira do brejo.

Fiz uma promessa e como pagamento decidi ajudar idosos internos em asilos. Todo domingo de manhã pego dois por sorteio e os levo para beber comigo na zona do meretricio da dona Bateprexeca. Eles piram! Precisam ver suas expressões de felicidade! Rejuvenescem! Acho que todos deveriam ter essa consciência e compaixão para com os mais velhos! Não custa muito embebedar um ou outro e fazê-los sentir vivos, mesmo vendo-os correr atrás das putas com suas pingolas murchas.

Um deles morreu na quinta da boa vista! Ninguém viu coisa igual. Caiu nu num canto silencioso... Só um problema interpelava os funerários: o pau! Duro num corpo morto insistia em sua rigidez como em vida própria. Este pau sempre deu problemas, dizia uma senhora enlutada... Pau do caralho! Do outro lado outras senhoras uivavam sobre o cadáver resignado.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 16/03/2018
Código do texto: T6281876
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