COM LICENÇA... OBRIGADO...

COM LICENÇA... OBRIGADO...

Sempre vivera da cunicultura. Da criação de coelhos tirava seu sustento. Com as 50 matrizes, de pelagem variada, e apenas um reprodutor, alcançava bom faturamento, pois o velho Adolpho era incansável na sua prazerosa atividade. Ah, sim, Adolpho Dias é como o reprodutor, comprado no México, era conhecido. No momento da cobertura as coelhinhas eram colocadas em fila e o reprodutor ia de uma em uma cumprindo sua meta.

Mas chegou o dia em que Adolpho já não tinha mais o mesmo vigor e agilidade para cumprir sua missão procriadora, frustrando o cunicultor que pensava em adquirir mais matrizes. Vendo a tristeza do patrão, por não poder expandir seu negócio, e preocupado com o emprego, um dos auxiliares sugeriu: o senhor poderia comprar um reprodutor mais jovem.

A sugestão passou dos ouvidos ao bolso e contornou o coração apertado. Aceitou de imediato a sugestão. O que fazer com o Adolpho Diaz? Essa foi a dúvida que ficou martelando a cabeça do cunicultor. Foi por pouco tempo, porém. O rapaz, depois de uma rápida conversa, sugeriu ao patrão a solução: - Deixamos o Adolpho trabalhando normalmente, atendendo as últimas 15 fêmeas. E o Ric (foi o apelido dado ao Ricardinho, o novo coelho) entra no começo da fila. Vai no pique dele até alcançar o “coroa”.

Dito e feito. O Ric chegou e já ficou de olho grande nas coelhinhas. Na hora do abate estava indócil na largada da carreira. Enquanto isso o Adolpho já se ajeitava para cumprir a sua quota. “Solta ele”, gritou o patrão. E lá foi o Ric. Dentro daquela rapidez tão característica da sua espécie. Chegava e falava “Dá licença, Obrigado!” e dá-lhe brasa na tarefa. E seguindo o “dá licença... obrigado... dá licença, obrigado...” foi indo. Até que, já quase no final da fila, naquela volúpia repetitiva, não ligou o “stop”... “dá licença, obrigado... dá licença, obrigado... dá licença, desculpe Adolpho... dá licença, obrigado...”

Essa história me vem à cabeça cada vez que ouço essas personalidades descarregarem ofensas e logo em seguida chamarem o ex adverso de Vossa Excelência... É uma espécie de “desculpe, Adolpho”.

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