A CULPA É DE QUEM?

O Supremo Tribunal Federal acatou a denúncia para processar os 40 (quarenta) cidadãos brasileiros envolvidos no maior caso de corrupção do Brasil, assim são repassadas as informações na mídia. Que bom! A justiça está fazendo o dever de casa direitinho. E nós?

Há pouco tempo o homem forte do governo era o Ministro da Casa Civil – Sr José Dirceu – e agora está formalmente respondendo a processo por formação de quadrilha e corrupção ativa, juntamente com vários outros que estavam compartilhando da alta cúpula administrativa do governo. Assim sendo, não estariam preenchidas as condições para pedir a abertura de um processo para investigar a eventual responsabilidade do presidente?

Pois bem, o grande entrave que se percebe hoje na sociedade é que, mesmo sabedora dos alvos problemáticos do país, ainda assim, persiste em continuar “empurrando com a barriga” problemas que afetam incrivelmente a vida de inúmeras pessoas que estão vivendo a margem da dignidade.

O paradigma de que não está ao nosso alcance mudar as diretrizes dessa Nação é por demais irresponsável e cheira “esgoto”.

Sabemos que os representantes do povo, escolhidos democraticamente, não estão correspondendo às expectativas de um Brasil que sonha ser grande, ser capaz de acabar um pouco com a miséria, com o analfabetismo, com as filas nos hospitais, enfim, redundar melhores condições para grande parte da sociedade que se encontra à mingua. E o que fazemos no momento de eleger nossos verdadeiros representantes? Salvo poucas exceções, repetimos nosso dever de casa, recolocando as “velhas” raposas que pouco se importam com o povo. Aliás , para eles o povo é como dizia uma ex-ministra – o povo é um detalhe!

Certa feita, o DD Afonso Arinos, presente na Academia de Letras, ao lhe perguntarem como via a concretização de Brasília, respondeu que: “O que Juscelino havia feito por Brasília é o mesmo que Guimarães Rosa havia feito com as palavras em seu livro – Grande Sertão: Veredas”. É Dizer: Brasília era, em princípio, um sonho de difícil realização, mesmo assim, Juscelino, sabiamente, concretizou sua obra.

Fico a me perguntar, acaso Juscelino estivesse vivo, como se sentiria ao ver que boa parte de Brasília serve de receptáculos que são acesos com as luzes de sonhos perdidos de uma Nação.

Mas creiamos que a mudança está por vir. Quem sabe seja o Supremo Tribunal Federal o responsável para reacender as chamas da esperança de um povo tão sofrido. Esperemos!

Enquanto isso, em vários cantos do país utilizam-se metáfora e ironia com o lugar onde estão nossos representantes, Brasília. Como dizia Machado de Assis, que a verdadeira arma dos sábios é a fina ironia, não à toa temos vários sábios nesse nosso Brasil, principalmente no Judiciário, como nesse exemplo:

O Juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da Comarca de Varginha, Minas Gerais, ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a Alceu da Costa (vulgo "Rolinha"), preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao delegado "desde quando furto é crime neste Brasil de bandidos?".

O magistrado lavrou então sua sentença em versos. Na íntegra, abaixo, a "sábia " decisão:

No dia cinco de outubro

Do ano ainda fluente

Em Carmo da Cachoeira

Terra de boa gente

Ocorreu um fato inédito

Que me deixou descontente.

O jovem Alceu da Costa

Conhecido por "Rolinha"

Aproveitando a madrugada

Resolveu sair da linha

Subtraindo de outrem

Duas saborosas galinhas.

Apanhando um saco plástico

Que ali mesmo encontrou

O agente muito esperto

Escondeu o que furtou

Deixando o local do crime

Da maneira como entrou.

O senhor Gabriel Osório

Homem de muito tato

Notando que havia sido

A vítima do grave ato

Procurou a autoridade

Para relatar-lhe o fato.

Ante a notícia do crime

A polícia diligente

Tomou as dores de Osório

E formou seu contingente

Um cabo e dois soldados

E quem sabe até um tenente.

Assim é que o aparato

Da Polícia Militar

Atendendo a ordem expressa

Do Delegado titular

Não pensou em outra coisa

Senão em capturar.

E depois de algum trabalho

O larápio foi encontrado

Num bar foi capturado

Não esboçou reação

Sendo conduzido então

À frente do Delegado.

Perguntado pelo furto

Que havia cometido

Respondeu Alceu da Costa

Bastante extrovertido

Desde quando furto é crime

Neste Brasil de bandidos?

Ante tão forte argumento

Calou-se o delegado

Mas por dever do seu cargo

O flagrante foi lavrado

Recolhendo à cadeia

Aquele pobre coitado.

E hoje passado um mês

De ocorrida à prisão

Chega-me às mãos o inquérito

Que me parte o coração

Solto ou deixo preso

Esse mísero ladrão?

Soltá-lo é decisão

Que a nossa lei refuta

Pois todos sabem que a lei

É prá pobre, preto e puta...

Por isso peço a Deus

Que norteie minha conduta.

É muito justa a lição

Do pai destas Alterosas.

Não deve ficar na prisão

Quem furtou duas penosas,

Se lá também não estão presos

Pessoas bem mais charmosas.

Afinal não é tão grave

Aquilo que Alceu fez

Pois nunca foi do governo

Nem seqüestrou o Martinez

E muito menos do gás

Participou alguma vez.

Desta forma é que concedo

A esse homem da simplória

Com base no CPP

Liberdade provisória

Para que volte para casa

E passe a viver na glória.

Se virar homem honesto

E sair dessa sua trilha

Permaneça em Cachoeira

Ao lado de sua família

Devendo, se ao contrário,

Mudar-se para Brasília!!!

Clovis RF
Enviado por Clovis RF em 29/08/2007
Código do texto: T629540