Uma revolução invisível

As mudanças vem a cabresto com as criações planejadas da indústria das comunicações e entretenimento e, é claro, se somando às necessidades de lucros rápidos das empresas que as inventam.

O Estado começa a dividir suas competências com a iniciativa privada. As pessoas da sociedade civil assumem o ônus da ausência do Estado. O caos pela troca das atribuições se estabelece: os conflitos e as distorções são inevitáveis.

Embora sejamos regidos por um sistema de liberdade democrática e capitalista, não conseguimos ser tão independentes quanto precisaríamos e, como conseqüência ficamos vulneráveis aos novos conceitos e valores que se impõem como uma receita a ser seguida, com risco se não segui-las de sermos discriminados e, por que não, até excluídos.

Na inversão de valores, o automóvel, o celular, o computador passam a ter lugar privilegiado em nossas mentes e corações, e, pessoas, diante destas novas figuras da mitologia moderna contracenam no cotidiano no papel secundário de figurantes.

Habilidade profissional e desenvolvimento intelectual são erroneamente interpretados pelo idiota como esperteza e, o idiota esperto, é visto como inteligente. E assim criamos uma realidade na contramão da inteligência humana.

Pessoas imersas neste terremoto de apelos e propostas divulgados pela TV, meio de comunicação que monopoliza todas as atenções, com raras exceções, buscam imitar nos seus cotidianos o que vêem na tela da TV e do computador passando a viver uma realidade ilusória.

Todos se encantam com imagens e delas passam a serem vítimas. Os mais jovens, nas suas ingenuidades, aceitam as imagens como a única verdade, como a coisa que é certa. Tomar bebida alcoólica, por exemplo, é a coisa certa, pois o seu Ídolo, o Ronaldo, toma cerveja e os incita a fazer o mesmo. A vida já não é tão importante como alguns mais conservadores dizem ser; afinal, os seus mocinhos matam sem qualquer piedade; então, isto é certo.

Namorar passa a ser coisa do passado. Namorar é início ou talvez o meio e isto já não é mais importante, pois estamos recebendo as coisas prontas, no fim; então, eliminamos o início e o meio e vamos diretos pro fim: a última etapa do processo.

Quando não encontramos prazer na conversa, na leitura, na música, no aprender, no ver, no fazer vamos então para o prazer pronto, aquele que já é o final de qualquer processo; e aí nos oferecem o prazer das drogas. É o prazer fácil, que embora seja o prazer da morte, esta questão de vida e morte já não é mais importante, pois elas já foram banalizadas pelos seus “mocinhos” em filmes repetidas vezes vistos e aceitos como “interessantes”. Talvez a proposta do “prazer” das drogas até fosse mais bem discutido se não precisasse apenas de dois componentes: dinheiro de um idiota.

Pensar deveria ser um desafio viável, aceito como viável. Questionar e não fazer o que a maioria faz não pode ser visto como loucura, mas como tomada de posicionamento, discernimento. Não precisamos correr para onde todos correm. Lembrem: nos grandes incêndios os que sobrevivem não aqueles que querem sair pela porta principal, mas os que saem pela janela. Não somos pão da mesma massa, somos seres humanos, pensantes. Não devemos ter medo de ser diferentes, precisamos é ter medo de afundarmos no mesmo buraco.