Devolvida ao remetente

Enquanto o "tremendão" Erasmo na sua "A Carta", escrevia "mal traçadas linhas", seu amigo e "rei" Roberto Carlos repetia entre os afinadissimos "Eu te amo, eu te amo", que "- as cartas já não adiantavam mais". Queria mesmo era ouvir a voz.

Sob a tutela da ditadura militar, vivía-se a exaltada propaganda estatal do ""o petróleo é nosso!"; do "ame-o ou deixe-o". Eram os frutos do caloroso pseudo "milagre econômico brasileiro".

Na verdade, eram os áureos "anos de chumbo" e da vergonhosa "denúncia vazia" a restringir; a censurar as mais variadas formas de mídia.

A carta, o mais popular instrumento de comunicação interpessoal naquela época, simbolizava uma moderna ferramenta comunicativa entre todos os seguimentos.

O telefone, ainda privilégio de poucos, timidamente, popularizava-se, sobretudo nos grandes centros.

Certamente, os menos saudosos, citarão o imediatismo atual das mensagens eletrônicas; das modernas transmissões de dados em alta velocidade, como diferenciais.

Concordo com todos os argumentos acima

mas asseguro que escrever uma bem elaborada carta era e aínda é tarefa pra poucos.

Vocês não têm idéia, meus caros internautas, como era a engenhosa logística para que distantes e saudosos enamorados, enaltececem as suas paixões.

Caneta esferográfica de escrita fina, papel escolhido, local previamente reservado e, sobretudo, muita concentração. Racunhava-se; descartava-se; escrevia-se; reescrevia-se.

Por fim, nos muitos parágrafos, derramava-se todo um sentimento entre linhas e entrelinhas.

E, seguiam-se as etapas: envelope, cuidadosamente, fechado, colado e selado. Confirmava-se, mais uma vez, já na fila dos correios, os endereços do destinatário e remetente.

Aquelas declarações, aí escritas, somente tocariam o coração do destinatário depois de longos e ansiosos dias.

E não tinha esse negócio de arrepender-se do que escreveu não! Não conhecíamos o verbo deletar. Escreveu, estava escrito!

Fui um fiel usuário desse tipo de correspondência.

Ganhei tantos "presentes" de amigos que, com pouco costume com a escrita ou por timidez mesmo, utilizavam-se dos meus manuscritos. Bastava o remetente dizer o assunto e o sigilo era total.

Você, que leu, atenciosamente, o supra escrito até aqui, não duvido que tenha uma bela história relacionada às "cartas de amor" e aos efeitos por elas causados.

Luiz Rodas
Enviado por Luiz Rodas em 02/04/2018
Código do texto: T6297845
Classificação de conteúdo: seguro