MUNDO MÚLA, ACABA PERDIDO

MUNDO MULA ACABA PERDIDO

Elizabeth Fonseca

Mês de Janeiro de 1990. Uma década para o terceiro milênio, deparou-se-me uma cena em plena Rua 14 de julho, esquina com a avenida Mato Grosso (Campo Grande – MS). Um jovem mendigo externava sua angústia. Fiquei atenta esperando que ele concluísse sua frase ; a letra era firme, bonita caligrafia, gostaria talvez de chapiscar se tivesse tinta e pincel, mas como não os tinha, resolveu escrever a giz mesmo e manifestar decepção e inconformismo ...

Mas o que me surpreendeu foi o fato dessa pessoa não ser um garotão, ou então pessoas mais afeiçoadas que querem externar insatisfação em muros e paredes, na calada da noite, que servem de painéis improvisados.

Era loiro, alto, magro, barbudo, sujo e maltrapilho, era até mesmo bonito, e tão quietamente deu seu recado. MÚNDO MÚLA, ACABA PERDIDO, (acentuou os dois ‘Ú’ com acento agudo). Porque apelidou o mundo de mula ! ... Seria o mundo simplesmente alimária! Ou as pessoas que nele habitam, sem oportunidade de vencer ! Sentiria essa opressão do mundo em sua cabeça ! E por que ACABA PERDIDO ! ... sentiria perdido dentro desse mundo, seria um apelo!..

Mas, ele deixou seu recado e seguiu seu mundo, sem nenhuma voz, apenas a que gritava dentro de sua alma.

Elizabeth Fonseca
Enviado por Elizabeth Fonseca em 29/08/2007
Código do texto: T629986