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(Imagem do Google)

Pombo-correio
 

Com o passar dos anos, as noites tornam-se mais longas, o sono chega em baixa frequência e essas noites insones nos conduzem às divagações diversas. Numa dessas noites fiquei pensando nas cartas de décadas passadas e  quanta felicidade ao recebê-las! Líamos, relíamos cada linha como se fosse a última. Elas traziam notícias de entes queridos, ternas declarações de amor que nos embalavam nas mais belas redes de teares. Depois de lidas eram guardadas e relembradas como bálsamo quando a saudade doía.
Guardávamos os cartões recebidos também e achávamos o telegrama o máximo em tecnologia, sem nunca termos pronunciado tal palavra.

Lembro-me de um passado recente que a maioria dos meus alunos não sabia como se escrevia uma carta e quis ensiná-los. Trabalhava com várias turmas de uma mesma série e pedi que escrevessem cartas cordiais às pessoas da escola, que eles poderiam escolher a quem escrever. Fizeram as cartas, colocaram nos envelopes e eu fui o pombo-correio. Confesso-lhes que foi um dos melhores trabalhos em todos os meus anos de magistério. Quando as pessoas recebiam as cartas, riam, choravam e a comoção foi generalizada, quiçá pela ausência de afetos em tempos modernos.

Escreveram para funcionários de todos os segmentos da escola. Lembro-me de uma senhora que trabalhava na cantina  e ao receber uma carta elogiando a sua dedicação e o lanche que fazia para os alunos , as lágrimas escorreram-lhe pela face.
E as indagações não cessavam:
-Professora, entregou a minha carta?
-Qual foi a reação de fulano  ao receber minha carta?
-Tem certeza que já entregou minha carta, professora?

Percebi que naqueles momentos nem se davam conta das redes sociais e isso para mim foi um presente dos deuses! Quem é professor(a) sabe do que estou falando, competir com as redes sociais em sala de aula somente para aqueles que veem o magistério como uma missão divina.

Tenho algumas cartas bem antigas que minha mãe recebia de seus familiares quando morava em outro estado da Federação , eram guardadas por ela com muito zelo e após sua partida, continuam zeladas por mim.
Não sei onde se escondeu o pombo-correio. Sinto saudades  deste secreto carteiro que nos fazia feliz por inteiro!

 

"Pombo-correio voa depressa
E essa carta leva para o meu amor
Leva no bico que eu aqui fico esperando
Pela resposta que é pra saber
Se ela ainda gosta de mim"
(...)

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Rosa Alves
Enviado por Rosa Alves em 07/04/2018
Reeditado em 05/09/2022
Código do texto: T6302002
Classificação de conteúdo: seguro