Você coleciona medo?

Quando criança, eu era um colecionador de medos, na minha estante imaginária havia dezenas de troféus de campeonatos onde ganhava quem tinha mais medo das coisas. O Cão Coragem do desenho é um valentão perto de mim.

Chegava a hora de dormir, e lá vinha a sensação de impotência, de calafrios, me acovardava debaixo dos lençóis, usando-os como capas protetoras. A criança realmente tem a mente muito fértil, tanto para criar monstros por baixo das camas, como por ter receio do que ainda não conhecem.

Lembro-me da época sobre o incidente do caso do Et de Varginha, em 1996... Foi um ano aterrorizante, sempre que ia me deitar, imaginava sendo visitado por algum ser de cor verde e sendo abduzido... Que bobagem! Porém, com 10 anos de idade certas coisas tornam-se exorbitantes, ainda mais com um menino que tinha uma mente em tal grau criativa.

Outro fator que me fazia tremer, era o medo de altura, não podia olhar da janela de algum prédio alto, que já me dava tontura e sensação de desmaio.

Afinal, quem nunca teve medo de alguma coisa?

Nós adultos, temos vividos com nossos medos como se eles fossem alguém da família. As ansiedades sobre algo já acarretam perguntas corriqueiras e na pluralidade das vezes, temos terror de bobagens, de situações simples, de paradigmas. O novo tem espantado, a coragem fugiu de nossas atitudes, será que até ela está frouxa também?

Certos medos são construídos em nossas vidas com os tijolos dos traumas, com as paredes dos "Não", com os telhados das críticas e com tudo que não conhecemos, isso é típico, temos autodefesa, somos precavidos, nossa mente armazena o que aparentemente é seguro e nos mostra o que é desconhecido, no escuro sempre pode ter um monstro, lá naquele lugar não saberemos onde dar cada passo... Entretanto, se fôssemos mais audazes,

poderíamos enfrentar o que for, mesmo não sabendo o que nos espera na virada da esquina, mesmo não tendo certeza da aceitação das pessoas, mesmo nos obrigando a ser destemidos quando a mente diz não. Não aceite fincar-se em fobias. Não há nada que seja definitivo, podemos mudar qualquer situação, basta exercitar e querer.

Quando criamos leviatãs, o caos passar a ter domínio total da nossa vida, não relaxamos, inventamos problemas inexistentes e tudo que foge a rotina, já nos dar a sensação de espanto.

Durante anos, fui refém do medo, por isso procurava certas fugas e desenhava abstrações em cada dia vivido. Medroso, passei a viver pelos troféus colecionados ao longo de minha história, e ainda lustrava-os com desculpas esfarrapadas.

Chegou uma hora que tive medo de morrer e ser apenas mais um, o que seria de minha biografia morrendo como um perdedor?

Tive que refazer tudo, procurei ajuda, sai da zona de conforto e fui além do que meus olhos fingiam enxergar.

Hoje, não temo o que não conheço.

Joguei fora cada troféu estúpido que um dia fez parte da decoração da minha alma.

Me esforço cada vez mais para ter coragem de enfrentar cada problema que se coloca na minha frente.

Hoje a minha fé é a minha arma!

Nada temerei!

Felippe Lacerda
Enviado por Felippe Lacerda em 11/04/2018
Código do texto: T6305373
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