A RAZÃO NOS DESTRÓI

Aquela velha dicotomia entre a razão e a emoção me faz sempre pensar de que lado eu estou. Uma parte de mim se inclina para um temperamento forte, duro e impávido, enquanto outra se deleita na compaixão, na afetividade e no apego. É como se fosse uma simetria sem nenhum rabisco ou projeto. Duas metades que não pertencem a mesma concepção, embora possa haver traços de uma ou de outra.

É bom ter a dosagem certa para a razão e a emoção, mas é bom também saber que a escolha entre uma ou outra não nos é dada, ou somos razão ou somos emoção. O que ocorre é o discernimento para a escolha de uma ação específica de cada caso, mas o que quero aqui deixar bem claro é a essência contida na personalidade de cada homem ou mulher.

Ser razão as vezes machuca muito. Ser razão muitas vezes nos faz cegar os ângulos e as possibilidades que a vida nos dá. Ser razão as vezes atrapalha a convivência harmoniosa entre as pessoas e nos faz achar que a nossa verdade é que deve sempre prevalecer. O homem ou a mulher razão esquece da simplicidade da vida, da facilidade que temos em driblar conflitos, da oportunidade de que temos em aprender algo novo, da possibilidade de sermos enxergados puramente como seres humanos dotados de sentimentos genuínos. Por esse motivo acredito que a razão nos destrói.

Quantas vezes colocamos a cabeça no travesseiro e refletimos a respeito do nosso comportamento no dia que findou e temos a sensação de que foi um dia pesado e cruel. Talvez seja nossa consciência pedindo para frearmos um pouco e nos colocarmos no lugar das outras pessoas. Até que ponto valeu a pena impor, teimar, apostar, resistir as pressões e bater de frente? O ser razão age dessa maneira, mas se chega a refletir essas questões é porque ainda acredita que pode mudar. É porque no fundo sabe que a razão destrói possibilidades de viver a vida com menos dificuldades. Que os aborrecimentos decorrentes dos conflitos racionais nos fazem perder o sono.

Amanhã é outro dia e o ser razão começa tudo novamente até chegar a hora certa da mudança, pois nunca é tarde demais para fazer de nós pessoas menos complicadas e agir um pouco mais com o coração.

Paulo Roberto Fernandes
Enviado por Paulo Roberto Fernandes em 12/04/2018
Reeditado em 30/07/2018
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