O caso dos perus de natal.

Reza a lenda que um homem numa cidade do norte do Paraná, às vésperas do Natal, foi com a esposa a uma revenda de frios, muito famosa na região. Esse cidadão era alto funcionário de uma empresa estatal onde trabalhava desde a juventude e conhecido pelo seu considerável padrão de vida.

Sujeito muito afeito a conversas, reuniões, cervejas, muito conhecido pelos seus tempos quando moço, era de estatura muito alta, encorpado e de um vozeirão grosso que chamava a atenção de qualquer pessoa mais distraída.

Tempos de hiperinflação, a coisa complicadíssima para a sobrevivência de qualquer trabalhador... mas lá foi o Arlindo para comprar o tal peru de natal.

Como a loja estava abarrotada, Arlindo não se fez de rogado. Esperou que a loja enchesse ainda mais e, de súbito, se prostrou bem no meio daquele espaço e, com seu vozerio valente, falou mais alto ainda para a esposa:

= “Aninha, quantos perus?”

De pronto, ela respondeu : “dois”.

Com toda a rapidez, ele olhou para a balconista e disse, num Português sempre muito mal resolvido:

=”Me vê dois perus prá mim. Vê logo os mais gordos”.

Arlindo pagou a conta e ambos foram para o carro.

Chegou ali ele não se conteve: ficou bravo demais com a esposa porque não era pra eles comprarem dois perus. Era um só e pequeno.

Aninha perguntou: =”mas por que você perguntou quantos perus?”.

Ele respondeu: “era só para aparecer, Aninha, e você faz isso comigo. Agora é isso: F...., f.... e meio”.

Isso porque a boca do Arlindo era um manancial de gentilezas.

Aninha não conseguia parar de rir, contou prá todo mundo e a gargalhada era geral. O sogro do Arlindo ficou até com a careca vermelha de tanto rir. Ficou gravado na memória de muita gente.

Passados alguns anos, ouvi uma outra estória.

Diz a lenda = de novo essas lendas = que distante 366 km, ao sul, uma cidade que se autoproclamou república, dois homens, provenientes do interior, também gostavam de aparecer.

A lenda afirma que eram dois juízes, ganhavam muito dinheiro, tinham casa própria e ainda ganhavam um valor considerável para morar nessas casas. Eu não acredito nisso, mas vamos aos fatos.

Dizem as más línguas que um deles gostava de usar camisa preta, fazia biquinho de mau e gostava de lançar o olhar ao longe, como que vendo o que os outros não viam, franzia a testa com ar macabro de preocupação. Adorava aparecer na globo e em tudo quanto era jornal. Também me disseram que sua consorte havia dado um rapa magistral na APAE daquele Estado mas não havia acontecido nada.

Eu sempre duvidei disso porque o William Bonner não havia falado. Então só pode ser mentira.

E diziam que tinha um outro também, que ganhava muito dinheiro para morar dentro da casa que era dele mesmo, que era atravessador do programa Minha Casa Minha Vida, mas eu também duvido porque o Bonner também não falou nada disso. Boca de siri. Dizem que fez até jejum prá ferrar a vida dos outros. Que homem pio. E me disseram também que ele não provava nada mas que era convicto de uma coisa que servia também prá incriminar os outros.

Seria, quem sabe, mais adequado, mais sensato e menos ridículo que, já que queriam tanto aparecer,de forma até doentia, que fossem a uma em loja de frios, bem chicosa, e perguntassem, a plenos pulmões, para suas respectivas meritíssimas consortes:

“Quantos perus???”

Seria mais plausível.

P.S. Mas como não acredito em lendas, fica sendo só um mais causo.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 12/04/2018
Reeditado em 13/04/2018
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