A NETA E O AVÔ

A neta nascera em São Paulo, no Hospital e Maternidade Santa Catarina, situado na Avenida Paulista, de parto normal. Sua mãe morava com seus próprios pais e assim também a neta passou a morar, desde o nascimento, no apartamento de seus avós, o que trouxe a estes uma imensa felicidade. E como sempre acontece em situações como esta, a neta sempre foi muito paparicada pelos seus avós. Quando o avô precisava sair para compras ou algo assim, a neta fazia questão de ir junto. Era sua companheirinha habitual.

Anos depois, seus avós mudaram-se para o interior do estado e a neta - então com dezesseis anos de idade - e sua mãe os acompanharam. Sua avó faleceu meses após a mudança para o interior. Alguns anos depois, sua mãe, então casada, mudou-se com o marido para outro estado, permanecendo apenas a neta com seu avô. Por essa época, a neta já trabalhava fora e, durante o dia, permanecia o avô, já aposentado, sozinho em sua propriedade, uma pequena chácara.

Quase todos os dias, por volta das seis horas da tarde, ficava o avô na varanda, esperando a neta chegar do trabalho. Nesse horário chegava ela, abria o portão, entrava e com um sorriso, pronunciava a frase: - Oi, Vô, tudo bem? Se nessa hora o avô estivesse trabalhando no pomar, a frase, quase sempre era: - Oi, vô, trabalhando duro? E isto, para felicidade do avô, repetiu-se por um bom tempo.

Mas como nada na vida é eterno, estes bons momentos findaram e existem hoje apenas na lembrança do avô, pois, mais uma vez, alguém da família se mudou de endereço: a neta casou-se e vive agora com o maridão em seu apartamento, em São Paulo. Também ela trabalha duro, na empresa à qual presta seus serviços e ainda em casa nos afazeres domésticos.

Hoje, sozinho, o avô senta-se novamente na mesma varanda e no mesmo horário, mas, a neta não chega mais no portão, não mora mais com ele. Agora, vez ou outra, eles se encontram para um almoço de domingo. Para ele ficou apenas a recordação eterna daqueles momentos cheios de ternura e de carinho de uma neta para com seu avô, momentos tais que, ao lembrar-se, fazem com que uma teimosa lagriminha, de vez em quando, insista em escorrer rosto abaixo...

Wilson Duarte
Enviado por Wilson Duarte em 21/04/2018
Reeditado em 01/10/2018
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