FRUTA DO MATO

Frutas silvestres são aquelas que dão no mato, como ariticum, esporão-de-galo, amora, guavirova e pitanga. Foi na infância que travei conhecimento com tais entidades comestíveis. Mas nunca entrei no mato para matar a fome comendo as frutinhas. O que me movia era o espírito aventureiro. Eu e outros moleques íamos para atravessar banhados, subir nas árvores ou atirar paus e pedras em algum ariticum muito fora de nosso alcance. Tudo na base da algazarra.

O ariticum era a fruta mais apreciada e valorizada. O dicionário não reconhece tal grafia, o que lá se acha é "araticum". Mas não importa, vamos aqui ficar no ariticum mesmo. Dava no mês de março e abril, como ainda hoje, é claro.

Quem conseguia um ariticum estampava a felicidade na cara. A gente tinha até pena de comer, para não perder aquele troféu. Às vezes eu ia sozinho, quando não achava alguém que me acompanhasse. Procurava com os olhos algum que já estivesse amarelo entre tantos outros verdes. Se via um ariticum maduro, ah, meu Deus, era como se hoje eu achasse cem reais na rua. Comer na hora, nem pensar, levava pra casa e mostrava aos irmãos e vizinhos.

E na verdade não havia muito o que comer. O ariticum tem 90 por cento de grãos e quase nada que desça ao estômago depois de muita luta dos dentes para separar os grãos e mandá-los fora da boca. Uma verdadeira porcaria, é o que digo agora.

Hoje, como ainda entro muito nos matos por questões de profissão, já que sou apicultor, ainda encontro pés de ariticum. Vejo algumas frutas maduras lá em cima e outras tantas no chão, mas não lhes dou a menor importância. Não valem nada.

A Natureza é a mesma, segue as mesmas leis. A gente é que muda, damos valor a certas coisas numa época da vida, depois o tempo passa, e acabamos olhando para trás com outros olhos.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 21/04/2018
Código do texto: T6315266
Classificação de conteúdo: seguro