Meu Velho Pai, saudades...

Hoje, do alto dos meus já avançados anos, me pego a recordar sobre a vida. Vejo-a como se fosse uma estrada, na qual começamos nossa caminhada no Km zero e, dia a dia, vamos seguindo. A cada ano vivido percorremos alguns quilômetros na estrada da vida, da qual não há retorno. Só a memória consegue resgatar os momentos vividos.
Os pensamentos insistem em me afogar neste longo caminho percorrido até então.
Percebo que em todos os passos deparo-me com a imagem viva de meu pai norteando-me e protegendo-me.
Tudo o que sou, devo a meu pai: minhas qualidades; meus defeitos; minha honra; minha ética; minhas preferências e, principalmente, minha Fé.
Se sou um homem de Bem, eu devo ao meu pai; se sou um bom pai de família, eu devo ao meu pai; se gosto de fogão de lenha, eu devo ao meu pai; se gosto de uma cachacinha, eu devo ao meu pai; se gosto de um cafezinho forte - passado no coador de pano, eu devo ao meu pai; se gosto de um cigarrinho de palha, no fuminho de corda - picado e enrolado na palha de milho, eu devo ao meu pai; se eu torço pro meu time do coração, eu devo ao meu pai; se eu gosto de uma boa trucada com os amigos, eu devo ao meu pai.
Tudo, ou quase tudo, eu devo ao meu pai!
Agora, se eu amo pescar...Não! Isto eu não devo ao meu pai, isto não! Ele não gostava de pescar.
Ele amava de paixão era caçar. Isto também eu não devo a ele. Nunca me apeguei a tal coisa, ainda bem! Lá pelos idos das décadas de 1940 a 1950, no norte do estado do Paraná, ele fazia suas caçadas com seus amigos leais, sua espingarda cartucheira e seus cachorros companheiros. Certa vez me disse que chegou a ter 14 cães de caça. Tatus, catetos, javalis, capivaras, antas, quatís, onças e até cobras...Sim! A jiboia tem a carne parecida com a do frango - muito saborosa. A cascavel então, ah, não perdia uma: matava e imediatamente cortava um palmo da cabeça e um palmo do rabo, que era para que o veneno não contaminasse a carne. Levava aquele tolete pra casa e o pendurava sobre o fogão de lenha. Ali ficava por vários dias até quando, já bem seco, era moído e o pó colocado num litro de cachaça. Todos os dias tomava umas doses da danada que, de tão forte até a pele descamava. Dizia que era bom pra tudo e afrodisíaco. Também dizia que, se os pesquisadores estudassem este pó de cascavel, talvez descobrissem a cura de várias doenças e, quiçá, até do câncer.
Meu velho pai tinha muitas histórias engraçadas:
Lembro-me de uma passagem que, certa vez, um amigo lhe falou: - “Seu Antonio, seu filho puxou ao senhor”. No que ele prontamente rebateu: -“Puxou não! Quem puxa pai é filho de cego”. Nunca me esqueço deste diálogo. Outra que não esqueço, embora não me lembro mais como ele fazia: Antigamente, principalmente na roça, alguém ter calendário ou folhinha do ano em curso era difícil, muito raro, mas ele tinha um meio de contar nos dedos das mãos os meses do ano e sabia quais deles eram de 31 dias e também se fevereiro seria de 28 ou 29 dias.
Quanto aprendizado!
Assim foi minha trajetória, da infância até a maturidade.
Meu Velho Pai, o Tempo passou, você se foi... O Tempo continua passando - inexoravelmente, e nós também vamos passando pela Vida, a caminho da Eternidade. Até mais ver, meu Velho!