ALVO, os diferentes

Estou amarga, desculpem... Ser adulto é péssimo! O projeto humano de se estender por extensões e extensões de “terra” (superfície), mesmo em ambiente virtual (tela), está anulado porque as palavras de “ordem e progresso” como espontaneidade, impulsividade e criatividade estão aprisionadas por diversas “chantagens emocionais” ou “artimanhas teatrais”, elencadas nas maneiras com que alguns incitam ou manipulam muitos indivíduos. Se a opção - fragilizar profissionalmente - não serve, denegrir moralmente é uma “jogada de mestre”. A “preferência nacional” é a fofoca “inventiva” e sem possibilidade (ou necessidade) de comprovação.

O ponto chave do jogo entre humanos é tentar destruir a rede em que os ditos “mais perigosos” (diferentes) fundamentam suas seguranças, forças ou energias. Enquanto muitos de nós viajamos pelo tempo dentro de uma normose , os “diferentes” são colocados à margem, são apontados em conversas ao pé do ouvido e são algumas vezes ridicularizados, por não viverem dentro de “ações globais e globalizantes” coletivas. Pergunto eu: para que isso?

Esquecemos que os diferentes têm hora, momento e lugar diferente de ser. E isso não significa se tornarem estorvos ou ameaças, isso teria que significar mais entendimento, parceria e diálogo no processo de desenvolvimento humano em prol do bem estar da coletividade e da “boa convivência”! Mas não, as pessoas vagam, ao nosso redor, como “almas penadas” ou “espíritos obsessores”, no intuito de vampirizar um brilho, uma alegria, uma segurança (“energias positivas”), dentro de risadas inseguras e planejadas, por pura incompetência pessoal. Uma amiga sempre me diz “o que falta é nós aprendermos o sentido da palavra ADMIRAÇÃO”.

Quem somos nós, então? Somos frágeis... Somos alvos fáceis... Somos eternamente sobreviventes... E mesmo assim, não somos nossos próprios aliados. Por medo, somos antropofágicos sem limites ou ética. Ética? Essa é a palavra de maior baixo calão de nosso tempo. Pandora não só enclausurou a esperança. De alguma maneira, numa masmorra alta e íngreme, esta moça também trancou a Ética e o Caráter. Conviver com pessoas? Muito difícil...

O que é que tem ser diferente? O que é que tem amar diferente ou os diferentes? O que é que tem agir diferente? E, principalmente, quem determinou os critérios do que seja “ser igual”? Nós passamos a vida recolhendo as certezas de outrem e, na hora em que somos solicitados a sermos pessoas melhores, estamos conformados demais em dogmas e/ou preconceitos. Devemos poder julgar por várias impressões e saber errar em grandes expressões. Devemos poder agir por nossos batimentos cardíacos e saber morrer no silencio de nós mesmos. Devemos pedir licença, mas nunca deixar de entrar onde quisermos! Será que o olhar dos outros é mesmo um dos maiores entraves da humanidade? Será que é por isso que a justiça é cega? Impressionante!

Pensemos um pouco: o diferente nunca é um chato. Não há obviedade ou monotonia em nossas inter-relações com ele. Nossa sensibilidade não se previne, não rechaça, não se adia; ela segue se experimentando porque precisamos crescer moralmente. Sabe o que acontece de verdade? O diferente é um ser muito próximo da perfeição. Como, soberbamente, nós nos acreditamos seres humanos perfeitos, como aceitar (e conviver) a versão do outro? Impossível!

As pessoas têm mil disfarces (voz, escrita, gestos) e, quando invisíveis, agem com mais sordidez porque suas personas são “pequenas” e sórdidas mesmo... Aos poucos, vão matando ou alinhando os diferentes, e igualizando as atitudes. “Sabe o que é um chato? É um diferente que não vingou”, dirá Arthur da Távola. Nós somos chatos e normais demais!

Segundo o senso comum, o ser humano age de acordo com a seguinte expressão revista: “venha a nós, mas ao vosso reino, nada!” Então, um conselho: se houver a mínima possibilidade de retornarmos ao mundo real depois da morte, vamos ser PEIXE e de aquário! Ou ainda, vamos retomar o cérebro reptiliano como cérebro central, assim só nos projetaremos na realidade por instinto (sugestão da Natureza), nada de pensamentos, análises ou leituras. Sinceramente, o raciocínio tem sido o maior veneno da raça humana.

Nessa confusão, nas relações, espalham-se complexos, traumas e desavenças. E pior: prejudica-se sempre o outro, o diferente. Sabe o que está esquecido no limbo desta loucura toda? Nosso potencial de reflexão! Esse é o ponto nevrálgico a uma proposta possível de grande guinada de todo ser humano. Precisamos acreditar no potencial de reflexão de si e do outro, e ir provocando superações por “força e com vontade” na medida dos conflitos. Início de tudo? Acreditar que a vida, além de palco para grandes estréias, cuja bilheteria dependerá mais da regularidade do que da promessa do “vir-a-ser”, é uma viagem em busca de amor próprio e ao próximo.

Esse amor não descarta as dores ou feridas. Elas são paradas obrigatórias para experimentar outras sensações, momentos e/ou pessoas. Mas se acreditarmos que essas dores são “investimentos”, elas só podem ter a ação de nos transformar e/ou nos preparar para outras etapas de mais amores, mais encontros, mais afetos, sempre muito essenciais.

De novo falamos em criar ADMIRAÇÕES. Não há porque complicar. É preciso seguir a vida observando o “caminho dos ventos”, mesmo que, às vezes, a bússola nos falte. Não há porque nos perdermos em tensões excessivas, desnecessárias e até inventadas.

Todos sempre dizem que “os seres humanos foram criados iguais quanto a sua capacidade e potencial”. As diferenças seriam decididas e desenvolvidas pelo/através do ambiente. Há, então, no mundo, uma hipotética igualdade de oportunidade. Então como se destacam pessoas como Freud, Salvador Dali, Anísio Teixeira ou Machado de Assis? Por oportunidade, uma genética sem limites e sem radicalismos, e, principalmente, AMOR AO PRÓXIMO!!

Por favor, mais do que salvar as baleias, SALVEM também os diferentes!

Claudia Nunes 2007