O Saci e a Menina Sapeca

Dia destes, uma colega de trabalho contou-me que,
quando era pequena, morava num Sítio e que foi a primeira
da família que aprendeu a assoviar. Oriunda de uma prole
de cinco irmãos, sendo quatro meninos e ela, a caçulinha.
Naquela época – por tradição, assoviar era coisa de moleque. Imagine uma menina assoviar? E pior ainda: começando antes dos seus irmãos? Não! Naquele tempo – e nem
nos atuais, assoviar sempre foi coisa de moleque e fm de
papo. Assim como descer ladeira abaixo em cima de um
carrinho de rolimã ou subir em árvores, o que ela também
fazia e com maestria. Tudo isto causava raiva na molecada
e ciúmes nos irmãos.
E a moleca sapeca, levada da breca passava os dias
assoviando, como que encantada. Assoviava tanto e tão
agudo, que a mãe e a avó não aguentavam mais a barulheira nos ouvidos. Foi aí que elas decidiram dar um susto na
danadinha.
Certa vez, sua avó a chamou e lhe disse: Cuidado
para não assoviar no vento, porque, se você fzer isto, vais
atrair o Saci pra junto de ti. E a avó completou dizendo que
o Saci só tinha um amigo em cada lugar e que se ele viesse,
não mais sairia dali, não mais a largaria.
A menina, que nada temia, não levou muito a sério a
conversa da avó e ainda tirou proveito da deixa e começou
a usá-la como dica para se livrar das amiguinhas chatas.
Assim, toda vez que uma delas vinha lhe aporrinhar, ela dizia: Vou chamar o meu amigo Saci e ele vai se transformar
num monstro feio e assustador. No que a inconveniente
saía correndo.46
Vadô Cabrera
E assim foram-se os dias, foram-se os meses e passaram-se os anos...
E hoje, muito tempo depois – em sua melhor idade, ela recorda estes momentos e dá gostosas gargalhadas.
Gargalhadas? Até parece coisa de Saci, não é?