QUANDO EU VI O MAR

O mar é com certeza um dos mais poderosos calmantes naturais que existe. Com todo seu tamanho, sua serenidade, algo bíblico, transmite a quem o vê uma paz de espírito como poucas coisas nessa vida.

Por vezes tenho inveja dos navegadores, dos marinheiros que podem trabalhar em tão majestoso local e que fazem dele seu lar.

Só fui conhecer o mar com 18 anos de idade.

Antes disso só tinha visto pela televisão, em filmes como A Lagoa Azul, em novelas, no filme A Lagoa Azul, em comerciais de bronzeadores, no filme A Lagoa Azul.

Mas não era a mesma coisa, ao vivo é sempre mais emocionante. Assustador à primeira vista, algo desproporcional, gigantesco, como a primeira vez que vi um elefante de perto certa vez em que um circo passou por Santa Maria.

Por mais que tenhamos a noção do seu imenso tamanho, sempre levamos um susto quando se está à frente dele.

Até então o mar era algo inimaginável para mim. Como seria sua densidade? Textura? Como encarar sua imensidão? E a areia? Só conhecia areia de rio.

Tê-lo conhecido só depois de adulto me deu uma vantagem sobre todos os outros. Quando bati meus olhos nele já tinha a consciência suficientemente amadurecida para me extasiar com sua grandeza, já batia em meu peito a certeza de saber estar de fronte a um gigante, enfim de algo que nunca tinha visto, mas respeitava. Me senti como o cego que agora enxergava o que, apesar de ter ouvido falar, nunca antes tinha enxergado.

Foi cômico a circunstância quando estive frente a frente com ele.

Conto-lhes:

Estava eu e meu pai, Seu Antônio, e abro um parênteses para dizer:(ele só conheceu o mar mais tarde ainda, aos 58 anos)

Chegamos em Laguna e nos disseram que o local mais bonito para vê-lo era do mirante que existia no pátio do Laguna Tourist Hotel, localizado num ponto alto em frente à praia do Gí. Subimos até lá e ficamos admirando “toda a imensidão do mar”, estávamos distante dele, num dos pontos mais altos da velha Laguna.

Olhando para baixo, víamos as ondas rebentando na beira da praia e fazíamos conjecturas e teorias do tamanho delas. Dois marinheiros de água doce.

- Deve ter uns 10 metros aquelas ondas – Falou seu Antônio.

- Que nada pai, no máximo uns cinco - Responde o entendido aqui.

- Que cinco o que? De oito a dez, com certeza.

Neste momento do impasse sugeri que descêssemos até a areia para resolver esta dúvida marítima.

Ao aproximarmo-nos um que de emoção tomou conta de nós dois. Esquecemos do tamanhos das ondas. O barulho era bem diferente daquele dos filmes e comerciais que até então tínhamos ouvido.

Numa mistura de assombro e temor contemplamos com respeito a vastidão daquele tapete azul serpenteando-se em ondulações que iam até onde o mundo fazia a volta, perdendo-se por sob o horizonte numa harmonia que nunca pensei pudesse existir em algo tão imenso.

Ficamos pasmos e em silêncio, os dois, como que hipnotizados, não acreditando no que víamos bem próximos de nós dois, por um tempo flutuamos em êxtase como se fossemos imunes a gravidade.

Admiramos este gigante que se esparrama por todos os continentes e lamentamos em silêncio o quanto tempo havíamos perdido ao não conhecê-lo mais cedo.

Nem lembramos de conferir as ditas ondas gigantes de cinco a dez metros que, em verdade, mal alcançavam a altura de nossas canelas.