Morar no Interior

Em uma dessas conversas sobre futuro com uma amiga, começamos a falar da possibilidade de mudar de cidade, das oportunidades que algumas capitais poderão nos proporcionar e da nossa dificuldade de sair do modelo de vida que o interior nos proporciona. No meio dessa conversa me lembrei de um episódio que vivi há algum tempo.

Eram mais ou menos 14h00 de um domingo. Eu estava recebendo a visita de um amigo em casa e logo após o almoço ele iria embora. Quando fui deixa-lo na porta, avistamos uma menina de uns 2 anos de idade andando sozinha na rua. Eu tinha a impressão de conhece-la, mas não tinha certeza se era mesmo a criança que eu imaginava. Corri para alcança-la e tentei conversar com ela. Perguntei pra onde ela iria e ela começou uma tentativa de explicação na linguagem de crianças de 2 anos que eu só entendi a palavra no final da frase. “Vovó”.

Ela estava afoita, queria chegar logo ao seu destino, não tinha tempo para bater um papo com pessoas inconvenientes como eu que lhe paravam na rua. Como ela não aceitou parar, eu perguntei se poderia acompanha-la até a casa de sua avó. Ela aceitou, pegou na minha mão e continuamos a caminhar.

Eu sinceramente não sabia o que fazer, mas não poderia deixar aquela menininha sozinha e nem podia força-la a ficar comigo. A opção que tive foi acompanha-la. Em menos que um quarteirão de caminhada, haviam duas mulheres na calçada. Uma delas disse: “Olá, Cecília! Pra onde você está indo com Aline?”. Ufa! Alguém que sabia de fato quem era aquela menininha.

Mais uma vez Cecília foi interrompida por uma pessoa inconveniente. Ela não deu muita bola para mulher, tentou se explicar novamente e me puxou para continuar sua aventura. Eu então expliquei rapidamente a situação e elas ligaram para a mãe de Cecília. A menina estava sem paciência, queria chegar em seu destino, mas foi atrapalhada duas vezes.

Em menos de 5 minutos sua mãe já estava conosco. Outra adulta para estragar os planos daquela menina. A mãe dela explicou a situação, disse que a tinha deixado sobre os cuidados do pai, que dormiu enquanto deveria estar de olho nela, e abriu espaço para essa aventura da menina. Cecília voltou para casa insatisfeita.

Essa história poderia abrir reflexões sobre diversos temas, poderia terminar falando sobre tragédias que poderiam acontecer, sobre o descuido da maioria dos pais, sobre travessuras que uma criança pode aprontar ou sobre domingos inesperados, mas a reflexão que não consigo parar de pensar é: Como é bom morar no interior.

Aline Nobre
Enviado por Aline Nobre em 07/05/2018
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