Fim de Tarde

Nostalgia. Desejo de voltar e rever tempos guardados somente na memória. É a melhor palavra que caracteriza a minha infância. Repito, minha infância, em respeito às pessoas que não nutrem esse mesmo sentimento. “Mora na filosofia?”

Infelizmente, já esqueci muitos momentos da minha infância. Esquecê-los é como se nunca os tivesse vivido. Porém, perdura viva e límpida, uma brincadeira dos fins de tarde no colégio. Éramos crianças enérgicas, e não podíamos esperar nossos pais de forma ociosa. O pátio era logo ali, enorme e com ostensivas mangueiras, a mirarem nossas pequenas cabeças com vigorosas mangas. Era a nossa tentação de Eva.

O objetivo da brincadeira era simples; colher o maior número possível de mangas. Tarefa fácil e deliciosa, já que elas caiam a todo instante! Havia sempre aquele que, mais distraído e devagar, não conseguia pegar uma. Para ninguém voltar triste para casa, repartiam-se as mangas e o vencedor saia só com a fama a mais que os outrso. Final feliz, que não tem nostalgia de tempos assim?

Nesses dias, quando saía do colégio com a mochila inchada de mangas, via, nas ruas e avenidas de Belém do Pará a mesma brincadeira. Tratava-se porém de sobrevivência...As crianças de rua, mesma idade. Lá, não havia a partilha do final, e o distraído voltava triste. Creio eu, a infância para eles não teve o mesmo sentido que a minha.