À Benção, Mãe Maninha

Li, não me lembro onde, um pensamento de Gibran que dizia que a palavra mais suave dos lábios humanos é a palavra mãe. E a mais bela invocação é MAMÃE. Uma palavra linda, pela de ternura e amor.

Essa frase (talvez esteja incompleta estou citando de memória) me veio à mente neste sábado véspera do chamado Dia das Mães. Que fique claro que lembro de minha mãe todos os dias. Estou me referindo à palavra mamãe porque adoro essa palavra, me comovo com ela, e, gente, nunca tive coragem de chamar minha mãe de mamãe. Detalhe: tenho certeza de que ela adoraria ser chamada de mamãe.

Por que tenho certeza disso? Ora, porque conhecia a minha mãe e sabia o quanto ela gostava de u carinho, atenção., suavidade. Mas a gente é como é, ou seja, é resultado de um tipo de sistema que não dava condição a esse tpo de pr´tica da ternura.

Vou confessar algo, estou numa fase meio esquisita que me leva a mandar para a lata do lixo todos os segredos. Seguinte: eu tinha auma inveja danada dos meus primos, principalmente dos filhos de Tia Dalgiza e de Tia Totó (não sei chamá-la de Tia Antônia) porque elas só tratatavam mãe por Tia Maninha. Ah, como eu adorava essa expressão! Achava ela linda porque além de terna e delicada caía como uma luva ara caracterizar mãe. Sim, ela foi antes de tudo uma Maninha querida. Meus tios, minhas tias, os cunhados de mãe também chamavam-na de Maninha. Apenas alguns parentes e parentas a chamavam por outro apelido: Lia. Mas o meu preferido era Maninha. Respeitava muito quando a chamavam de Dona Maria, ou simplesmente Maria, como meu pai a chamava. Ou Dona Maria Almira eu Dona Almira. Mas nenhum se comparavaa doçura de Tia Manaianha. Nas festas eu ficava num canto ouvindo meus prios e primas pronuciando aquele Tia Manainha aqui e acolá. E eu ficava morto de inveja, principalmente porque sabia que ela gostava de ser tratada assim. Nunca fui efusivo, lamento isso, acho que a única homenagem pública que fiz a minha mãe foi quando dei o seu nome, Maria Almira, à inha filaha caçula. Ela gostou desse gesto e, creio, ficou orguhosa.

Mãe passou por muitas adversidades, principalmente quando pai era prsegido por suas ideias e ideologia, perseguido e preso. Mas ela nunca baixou a cabeça. empre enfrentou as dificuldades com determinaação e coragem. Eu a comparo a Mãe Coragem de Brecht e à Mãe do romance de Gorki. Ela viu os ásperos temposdo reinado da truculência com dignidade. O interssante é que pai era comunista e espírita, e mãe nunca deixou o catolicismo dela. Por isso todos os filhos dos dois, somos uma espécie de média dos dois lados, absorvemos o que há de melhor neles.

Paece que estou vendo o outono de mãe, sempre sentada nua dessas cadeiras da vovó, tendo ao lado uma cestinha com umas revistas (uma era sem duvidade palavrs cruzadas), os óculos em cima de um tamboretizinho e nel também suas prendas religiosas, livros de orações, santos, terço etc. E mesmo nessa época ela nunca abandonou sua maior característica: a alegria e a satisfaçã de conversar. Eu chegava me sentava à frente dela, dizia algumas coisas e então ficava ouvino as suas histórias dos seus tempos de Floresta dos Navios, sempe dando ênfase às divergências dos Ferraz com os Novais, explicando a situação delicada do pai dela, o meu avô Apolônio, que era parente dos dois lados, falava também da partida precoce da sua mãe que tinha o mesmo nome que ela, dos seus tempos no Recife morando na casa de suas tias, do seu tempo de funcionária da Isseca(que depois virou Dnocs) e tantas outras histórias, algumas delas eu j´pa ouvira dezenas de vezes, mas todas elas com a mesma satisfção porque mãe falava com eoção, detahava, narrava com perfeição, a gente até parece qe estava vendo a cena. Olha, sei não. mas muito do que eu escrevo tem um pouco do jeito com que mãe contava as suas histórias, inclusive a mania de um assunto repentinamente e enrar em outro e voltar ao original. Eu acho que herdei isso de mãe, mas só escrevendo. Palavra de honra. Tem mais, sou Porto em muitas atitudes, mas também tenho muito dos Ferraz e ds Ninos de minha mãe. É inegável.

Éramos cinco os seus filhos. Mas aí quis o destino (não gosto de me referir a isso porque choro de raiva e saudade) que Isinho nos deixasse. Eu acho que lá, na ternidade, estava havendo uma carência muito grande de gente boa. Ficamos quatro. Mãe não foi ao enterro de Isinho, não deixamos. Fizemos bem, eu sei por quê, simplesmente porque, da mesma forma que ela, eu não posso sofrer esse tpo de emoção. Ms ela, camaradas, nunca bsorveu esse golpe, uma vez ela me disseisso, chorando. E eu nunca mais toquei no assunto com ela. Ela tinha um retrato de Isinho onde colocou um terço e sempre rezava, co se estivesse conversando com ele.

Como disse anteriormente, nós, seus filhos, nunca fomos de dar muita ênfase aos nossos sentimentos em relação à mãe, muito embora a amássemos demais. Acho que só Ivan conseguiu ser mais carinhoso com ela, tambem, pudera!, era o caçula. Nunca disse, mas difarçadamente, eu ria uito dos esforços de Rogério (Bé) e Isinho para demonstrar mais carinho por mãe, eram meio desajeitados. Mas alguem pode duvidar da devoção de Bé e de Isinho por mãe?

Apesar de ser uma pessoa muito afável e delicada, mãe era uma pessoa muito positiva. Lembro-me de uma cena ocorrid em nossa casa durante uma "invasão" da polícia (Dops). Nessa ocasiaão os tiras roubaram um relógio de minha mãe. Além de covardes eram ladrões. Pai ja estava preso. Então de repente um tira achou um retrato de Luiz Carlos Prestes e, excitado, para mostar serviço ao chefe que deve er sido quem roubou o relógio, gritou: "Achei, achei o retrato do chefe dos counistas". Mãe, indignada, disse nas ventas do meganha: "Deixe de besteira, você entrar na casa de um cmunista e não encontrar o retrato de Prestes, é o mesmo que entrar numa igreja e não encontar uma imagem de Cristo".

A minha maior recordação de mãe é sem duvida do tempo da nossa casa da Avenida Antono Japiassu, número 370, em Arcoverde. Foi a fase, digamos, italiana. Digo isso no sentido da alegria das famílias italianas que a gente via nos filmes italianos no Cine Rio Branco. Aquela prole pobre, mas rindo, vivendo, lutando, feliz. Mesmo com todas as adversidades nos fomos felizes. Era uma casa italiana com certeza. Tinha cnsultório de dentsta, reunião comunista, jogo de baralho, conversa de comadres, futebol no muro, a portada frente não tinha fechadura, so um trinco que abria por fora etc. E na cizianha Dona Maria Almira reinava e fazia mágica para a comida dar para todos poque havia alguns, meu caso, que avançavama na comida dos outros, então o remédio foi fazer o prato de cada um. Eu acho que foi mãe quem inventou a "quentinha". Ainda vou escrever sobre isso.

Conheci mita gente na vida. Mas ninguém que tivesse mais facilidade pra fazer mizades que minha mãe. E habilidade para entabular conversas com pessoas de quisquer classes sociais. O Major (apelido do meu pai) era um homem de posição , forme que nemuma rocha, um hmem de verdade. Mas mãe era mais popular que ele. M~e tinha uma necessidade de conversar com as pessoas. Nisso quem uxou mais a ela foi Bé, ele tem essa mesa característica dela. Lembro dos dias que ela ia visitar sua irmã, Tia Dalgiza. Quem vinha buscá-la de carro era meu primo Zé. Ela ficava num pé e noutro, doida que ele chegasse logo paa passar o resto da manhã e a tarde com as irmãs. Isso para ela era o mesmo que acertar na loto.

Olha, hermanss e hermansos, eu não gosto de santificar as pessoas. Mas no caso de minha mãe abro uma exceção porque foi uma santa humana, entenderam? Uma vez vendo-a rezando na sua cadeira, ja no outono da vida, eu recordei um verso de Barreto Coutinho: "Eu vi minha mãe rezando/ Aos pés da Virgem Maria./ Era uma santa escutando o que a outra santa dizia".

Para concluir esta "maltraçada", acho que o Major e Mãe devem estar surpresos com as lágrimas escorrendo dos meus olhos, e Isinho, que foi o meu maior crítico e a pessoa a quem fui mais ligado, deve estar rindo mas tamabém chorando por dentro, vou fzer agora, neste momento, que não tive coragem de fazer enquanto mãe esteve conosco aqui neste esaço terreno:

- À BENÇÃO, MÃE MANINHA!

Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 12/05/2018
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