O DIA DAS MÃES E AS BALAS DE PÁSCOA

“Foi neste momento que eu recebi um dos maiores ensinamentos da minha curta vida e que procuro levar comigo até os dias de hoje.”

Eu devia ter uns onze ou doze anos e ainda morava em Santa Maria. Bem próximo a minha casa havia uma favela, e eu só fui saber que era uma favela depois de adulto, até então eu imaginava que favelas só existiam no Rio de Janeiro.

Estávamos no sábado de Aleluia, véspera da Páscoa e a minha mãe achou por bem comprar dois pacotes de balas para dar às crianças pobres.

No domingo de manhã, pegou os pacotes e parou em frente a nossa casa e aguardou. Logo passou um pretinho minúsculo, simpático, de seus dez anos de idade. Entregou a ele um punhado das balas que ao recebê-las saiu em disparada e desapareceu em direção a sua casa.

Você sabe como são as crianças quando se trata de doces, são como formiguinhas famintas e em poucos minutos já havia mais de dez a nossa volta com as mãozinhas estendidas recebendo as balas aos punhados.

Mais alguns minutos e já reunia-se em torno de nós um enxame de crianças. Também já estávamos rodeados pelos adultos, os pais, as mães, os irmãos mais velhos, toda a espécie de gente como crianças esperando o punhado de balas.

Em pouco tempo os dois sacos estavam vazios, como era de se esperar, todas as balas já haviam sido entregues, mas havia ainda uma multidão de mãos vazias esperando o seu quinhão.

Ao perceber que as balas tinham acabado foram todos embora sem agradecer, xingando-nos e chamando minha mãe de velha miserável.

Fiquei muito chateado com a falta de consideração deles e falei para ela:

- Viu o que aconteceu? Nunca mais a senhora deveria dar balas para eles. São todos uns mal agradecidos.

Foi neste momento que eu recebi um dos maiores ensinamentos da minha curta vida e que procurei trazer comigo até os dias de hoje.

Ela olhou nos meus olhos com o olhar que toda mãe tem quando olha um filho, sabendo que aquele momento era deveras decisivo na minha educação, mas sem esforço algum pois fazia parte do seu jeito de ser e de seu grande coração e disse-me em tom baixo e sereno:

- Na próxima Páscoa vou comprar 4 pacotes.

Demorei muitos anos para entender a sua fala, mas guardei-a comigo como uma lição de vida e uma forma de conduta. Ela me ensinava, com um pacote vazio de balas nas mãos, a não julgar as pessoas pelos seus atos que em suma são frutos de sua ignorância. Ela dizia, que não somos maus nem bons, mas sim mais ou menos ignorantes.

Mostrou-me que devemos fazer a nossa parte não esperando recompensa ou aplausos. Que o exercício da caridade deve partir daquele que faz e não de quem recebe.

Meu espírito tacanho que sempre esperava algo em troca do que fazia, como pagamento forçado por algo, a princípio espontâneo, ainda não tinha compreendido os segredos do coração nem a carência daquele que recebe.

Me ensinou na pratica o significado da data que comemorávamos.

A exemplo daquele, que sofrendo seu últimos momentos de angustia, pediu a Deus para que perdoasse a multidão que o ofendia, minha mãe fez-me entender que coisas grandiosas podem ser feitas com a mesma elevação e brio , mesmo nos momentos mais simples do nosso cotidiano.

Por fim, sem perceber recebi o melhor presente de Páscoa que poderia ter recebido.

Convivi com ela poucos anos após este fato. Deus , misterioso como ele só , achou por bem levá-la para perto de si , deixando-nos com a certeza que convivemos com uma pessoa iluminada perto de nós.

Obrigado Dona Sunta. E Feliz dia Das Mães, no lugar maravilhoso em que a senhora está.