Sertão

Povo de deuses,sem noção,povo triste de almas perdidas,temem os vivos e adoram aos mortos,povo só,sem esperanças,de bocas secas e barrigas vazias,mãos marcadas da dura lida,gente sem brilho nos olhos,donos de um chão sem vida,plantam na incerteza de colher,gente que lutam sabendo que vencer é apenas um sonho,cantam alegrias curtas e que choram por lutos eternos,povo meigo,frágeis,crianças de barbas,velhos de colo,gente sem tempo pra vida,cenários de pena e histórias de dor,povo que sofre e cala,chora por dentro,povo de santos e crenças,"santos" de pedras e milagres de barro,crenças herdadas não  por vontade,milhares de corpos plantados ao chão,cacimbas de lágrimas dos olhos sem brilhos,aguam o chão seco e germinam a dor de mais uma perda,rotina de vida não há mais espanto,as vezes nem pranto apenas um grande silêncio,mais um por do sol que sela um dia de erros,o sertão dorme e sonha com dias de ceifas,o sol nasce ilumina a face sem pelos da terra de Cisso,logo bem cedo o inicio do brado,um simples café nada de pão,amargo como a vida, promessa de mais um dia difícil no sertão de padre Cisso,um povo de fé na imagem translúcida de homem perfeito,povo enganado,tristes,almas perdidas,nas paredes as imagens imóveis não respondem aos apelos,nem se comovem com o choro de quem sofre sem consolo,povo só, sem noção,gente de carne e pó,saudosos,humildes e donos deste Sertão.

-Carlos Sousa