O país meritocrata sem vocação para a meritocracia

No Piauí, uma mulher mata pai e filho, ambos adultos, e confessa crime em publicação no Facebook. Ela não se diz arrependida e alega vingança, já que a vítima mais velha matou o pai dela. No post, a jovem do interior de um dos estados mais pobres da federação afirma ter "passado o pão que o diabo amassou" sem a presença do pai na infância, inclusive por perder a escola porque não tinha café da manhã para aguentar algumas horas de aula.

Há alguns minutos, o Profissão Repórter mostrou a realidade de mães presas, todas vítimas da falta de políticas públicas e de oportunidades. Uma delas é usuária do crack desde os 10 anos e teve a progenitora como espelho, pois também se drogava quando criança.

Passei por situações semelhantes e, felizmente, segui um caminho muito diferente da maioria dos meus familiares, vizinhos de infância e amigos de escola. Por outro lado, reconheço que sou apenas uma exceção, dentro do meu próprio núcleo familiar. Tive um irmão assassinado pelo tráfico, com um tiro na cabeça, um pai esfaqueado e morto por foragidos de Pedrinhas e estou atento a minha irmã mais nova, ainda adolescente, grávida antes mesmo de terminar o Ensino Médio.

Caso pense que estou defendendo bandidos ou afins, engana-se. Apenas reflito sobre como os citados estariam, se realmente o "somos todos iguais, perante a Constituição" fosse posto em prática e desse oportunidades aos brasileiros. Talvez não ter Cunha, Cabral, Temer, Collor, etc. como sobrenome seja o nosso erro, meros sobreviventes num país de tanta injustiça, sobretudo a social.

Sendo assim, a meritocracia funciona para quem?