Notável Automática

Sem perceber entrei em uma sala e sentei-me. Distraído, comecei a olhar algumas fotos no celular. Ouvi vozes em tons baixos, fazendo zumbidos. Fiquei um bom tempo olhando para a tela do meu aparelho até ouvir uma voz doce e delicada se destacando entre o pequeno alarido. Olhei ao redor e percebi que a sala se encheu de pessoas. À frente, avistei a dona daquela voz. Olhei aquela mulher, de altura mediana. Trajava um vestido longo e despojado. Os cabelos lisos e pretos chegavam à cintura. Seus olhos amendoados brilhavam e contrastavam com seus lábios vermelhos. A pele alva parecia ser como seda. Encantei-me no primeiro momento.

Ela começou a falar e eu cada vez mais encantado com aquela voz. Ela falava e falava até que percebi que algumas argumentações estavam equivocadas. Levantei a mão para pedir a palavra e fui ignorado. Levantei a mão mais uma vez e ela continuou me ignorando. Não resisti e comecei a falar confrontando as ideias apresentadas. Com o mais profundo respeito, procurei ser cordial e argumentar de acordo com minhas pesquisas e reflexões. Sem pestanejar ela me olhou diretamente nos olhos e falou:

- Quem você pensa que é? Eu não tenho que aturar certo tipo de gente que se acha o esperto. Nesse assunto sou mestre e vou começar um doutorado. Fica na sua, cidadão!!! Vá estudar um pouco mais e depois venha discutir comigo!

Saí da sala e refleti que existem pessoas que não aceitam mudanças. O tempo vai passando e elas ficam presas em velhas fórmulas e ideias repetidas. São como autômatos programados por outras pessoas automáticas, que não aceitam novos e diferentes pontos de vista. O mundo está tão diferente. As pessoas não aceitam mais nenhuma opinião convergente das suas. A intolerância instalada no âmago de seus umbigos faz com que se tornem pessoas desagradáveis.

Passados alguns dias cheguei a uma sala de aula. O mobiliário era impecável. Os equipamentos em pleno funcionamento e um ambiente bem aconchegante. Cheguei cedo. Deixei minha bolsa e fui tomar um café e conversar com colegas. Fiquei algum tempo lendo o jornal quando me deparei com o horário. Fui rapidamente até a sala e logo ao entrar observei, entre algumas pessoas, aquela mulher linda de pele alva e cabelos pretos. Ela me olhou mais uma vez diretamente nos olhos. Desta vez fui eu quem falou:

- Boa noite. Meu nome é Sidney. Vou ministrar esta disciplina do curso de Doutorado. Tenho dois títulos de Doutor e um de Notório saber. Sou uma pessoa simples que ama a sabedoria e ainda acredita no potencial que as pessoas possuem para ter uma vida digna, humilde, prazerosa e com muita sabedoria!

Marcelo Pompom
Enviado por Marcelo Pompom em 17/05/2018
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